sexta-feira, 31 de maio de 2013
Misael era o mais novo dos sete netos de dona Aurora. Tinha, nesta época, cerca de quatro anos de idade. Laura, sua irmã, tinha seis. E todos os primos já contavam com mais de sete anos. Como em todos os anos, Misael, sua irmã e seus primos, iam para a casa dos avós no Natal. E, todo ano, dona Aurora pedia que cada um lhe desse uma meia ou um pé de sapato (eles sempre davam meias). A doce velhinha colocava as meias de seus netos, uma ao lado da outra, penduradas na janela. E dizia: 'de madrugada, Papai Noel vem e enche a meia de vocês!' Na manhã de Natal, todas as crianças corriam para pegar suas meias.

Dona Aurora estava certa: sempre tinham presentes dentro da meia e todos ficavam felizes.
Ocorre que o Misael, mesmo sendo o mais novinho, era também o mais espertinho. Ele viu os primos separando as meias para colocar na janela. Murilo, de oito anos, pegou a meia de cano alto com a qual jogava futebol. Benício, por sua vez, pegou uma meia ainda maior, com a qual ele jogava basquete. Os primos já calçavam muito mais que Misael e suas meias eram, naturalmente, muito maiores. Misael viu as meias dos primos e foi olhar as suas. Tão pequenas! Mal daria para caber um presentinho ali dentro. 'Isto não é justo!', pensou. 'Só porque sou o menor, vou ficar em desvantagem?' Foi, então, falar com a avó:
  • Vovó, eu estive pensando.
  • Sim, Misael, o que foi?
  • Eu sou muito menor do que os outros...
  • É porque você é o mais novo, meu filho, logo você será bem grande também!
  • Sim, eu sei. Mas neste ano ainda sou pequeno.
  • E qual o problema disso?
  • O problema é que minha meia também é pequena, e as dos meus primos são enormes! Eu estou em desvantagem. A senhora não acha que eu deveria colocar o par completo da meia ao invés de apenas um pé?
  • Ora, meu filho – riu a avó – o que importa é o carinho do presente, não o seu tamanho ou a quantidade.
  • Eu sei, mas...
  • Agora, vamos, deixe de tolices e vá brincar!
  • Está bem, vovó – disse, um tantinho aborrecido, Misael.
O que Misael não sabia é que seu avô, o Seu Antenor, ouviu toda a conversa. Também ele era o mais novo de sua família, e entendeu a chateação do neto. Chamou-o, num canto.
  • Misael, venha cá.
  • Sim, vovô, o que há?
  • Eu ouvi o que você conversou com sua avó...
  • É. Ela disse que eu só posso colocar um pé-de-meia. Estou em desvantagem, vovô!
  • Ora, a sua avó disse que você só podia colocar um pé, de meia ou de sapato...
  • Mas o meu sapato é ainda menor que a minha meia, vovô! - respondeu Misael.
  • Calma, menino. Escuta. Ela disse que você tinha que dar um pé, de meia ou sapato. Mas não disse que o pé tinha que ser o seu!
  • Não estou entendendo nada, vovô!
  • Ora, por que colocar um sapato seu? Deixa comigo, eu tenho a coisa certa para você!

    No dia seguinte, véspera de Natal, Dona Aurora serviu o jantar. Disse, então, aos netos:
  • Tragam-me suas meias ou sapatos, o que forem pendurar na janela.
Os netos todos correram para pegar suas meias. Misael, nervoso, olhou para o avô, que lhe deu uma piscada de olhos.
Murilo, Benício, Laura... Um a um, todos entregaram seus pés de meia à avó. Todos, menos Misael. A avó, então, perguntou:
  • E você, Misael, cadê o seu pézinho de meia para colocar na janela?
  • Está aqui! - disse o avô.
Todos viraram para olhar o que Seu Antenor segurava. Em suas mãos, um pé de galocha, de cano alto, enorme, com uma etiqueta colada na parte da frente, escrita ' Misael'.

A família toda riu muito da proeza do neto e da gaiatice do avô. E, na manhã seguinte, Misael, feliz e contente, viu que sua galocha estava mesmo cheinha de presentes!

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