sexta-feira, 31 de maio de 2013
Narciso acordou antes do despertador tocar. Estava ansioso, ansiosíssimo! Contava os segundos para chegar à lua. Correu até o armário do pai e pegou outro cinto. Era preciso instalar mais um, para que Júlia pudesse viajar em segurança. Desceu as escadas voando até o quintal. Olhou sua nave, e só então reparou. As bombinhas não fizeram a nave levantar voo, mas queimaram parte da pintura. Pegou as tintas e, rapidinho, fez os retoques. Pronto. A nave estava tinindo de nova outra vez! Mal ele terminou e Júlia chegou sorridente.
  • Nossa, Narciso. Como a sua nave tá bonita!
  • Acabei de pintá-la de novo. Trouxe os biscoitos?
  • Trouxe. Posso pintar umas flores, para verem que eu também estou na nave?
  • Pode. Mas só duas flores, para saberem que a nave é de menino!
  • Quatro!
  • Três!
  • Está bem, três. Mas na parte de trás!
  • Eu pinto do lado. É mais bacana.
  • Está bem, mas anda logo. Temos que ir e voltar antes do almoço.
  • Tá, tá. Então me ajuda aqui.
Os dois viraram a nave de lado e a menina pintou três flores: uma rosa, uma vermelha e uma amarela. Em cima delas, escreveu: Nave do Narciso e da Júlia. O menino reclamou:
  • A nave é só minha, Júlia!
  • Se não for minha também, não te dou o combustível!
Os olhos do pequeno viajante brilharam. O combustível! Ela conseguira, afinal?
  • Você trouxe?
  • Claro que sim! Não disse que ia trazer?
  • Qual é o combustível?
  • Gasolina, claro.
  • Você acha que é o combustível certo?
  • Ora, Narciso, se faz carro andar, vai fazer a nave andar também!
  • E como você conseguiu gasolina?
  • Peguei da mobilete da minha irmã. Mas, olha... se ela te perguntar, não fui eu não, hein!
  • Tá, tá.
  • Promete?
  • Prometido! - disse Narciso, esticando a mão para outro aperto de mãos. Ele e Júlia tinham muitos acordos e segredos e um nunca seria capaz de trair o outro.
  • Então. Onde colocamos a gasolina? - continuou Júlia.
  • As bombinhas eu colei na parte de baixo da nave...
  • Mas a gasolina não dá, né, mané! Tem que ter um tanque.
  • Tanque? A gente vai lavar roupa ao invés de comer queijo, é? - debochou o menino.
  • Não, não. Ai, você não sabe de nada, mesmo. Tanque de combustível, óbvio!
  • Eu não tinha nem pensado nisto... - confessou Narciso.
  • Pois trate de pensar! A gente tem que colocar a gasolina em algum lugar, senão não saímos do chão.
  • Aguenta aí que eu já volto ! - disse Narciso, correndo para dentro de casa.
O menino foi até seu quarto e revirou tudo. Achou, enfim, o que buscava. Pegou e voou de volta para o quintal.
  • Pronto, tá aqui! - anunciou.
  • O que é isso? - Júlia não sabia o que era aquele brinquedo.
  • É meu batmóvel! Olha só, ele tem um tanque bem grande aqui atrás – disse Narciso, virando o carro para mostrar à amiga.
  • Então tira ele e põe do lado da nave.
  • É pra já!
Narciso tirou o tanque do batmóvel, um carro enorme no qual ele conseguia subir e pilotar até o ano anterior. Agora crescera mais e o brinquedo se tornara pequeno. Mas o tanque ainda serviria, com certeza. Pegou mais fita durex e, sob o atento olhar de Júlia, pregou o tanque na lateral da nave. A lateral sem as flores, claro!
  • - Pronto. Tá instalado – comunicou o menino.
  • - Então abre a tampa que eu vou colocar a gasolina – disse Júlia, tirando de dentro de sua mochila uma garrafinha de água cheia do combustível.
A menina despejou devagar todo o líquido dentro do tanque improvisado. Sem que precisassem dizer uma única palavra, os dois amigos se olharam. 'A hora é esta', era a frase dita no silêncio do olhar. Narciso puxou os dois cintos, pegou o menor e estendeu para Júlia. A menina afivelou-se sem problemas, enquanto o amigo fazia o mesmo. Num piscar de olhos a nave estava pronta para decolar, com o tanque cheio de combustível e a tripulação a bordo.
  • E agora, Narciso? - perguntou Júlia
  • Agora a gente liga a nave.
  • Como?
  • Bom, era para ser uma chave, mas eu instalei a lanterna. Serve de farol extra e chave de ignição.
  • Ah, tá. Liga, então.
  • Vou ligar, se prepara!
Narciso ligou a lanterna. Nada. Desligou, ligou de novo. Nada. Tentou uma terceira vez. Júlia ficou impaciente.
  • Esta chave de ignição não funciona. Melhor a gente tentar outra coisa.
  • Como o que?
  • Não sei...
  • E se a gente jogasse uma bombinha de São João dentro do tanque?
  • Será que funciona?
  • Acho que sim.
  • É, não custa tentar.
  • Espera aí rapidinho que eu vou lá no meu quarto buscar e já volto.
  • Vai logo!
Narciso pegou a última bombinha que tinha, uma caixa de fósforos e foi para o quintal. Júlia já tinha tirado o cinto e o esperava do lado de fora da nave, com o tanque de combustível aberto e o forte cheiro de gasolina exalando pelo ar. O menino aproximou-se dela, mostrando a bombinha e os fósforos e...
Foi justamente neste minutinho que a mãe de Narciso chegou do mercado.
Chegou e levou um susto: de onde vinha aquele cheiro? Ao encontrar o filho e sua amiga à beira de tacar fogo na gasolina, perdeu a cor por um segundo. Apenas por um segundo, porque no seguinte ela já estava de fôlego refeito lhes dando uma tremenda bronca:
  • Vocês estão doidos? Querem incendiar tudo? Se jogarem fogo aí dentro não vai ter foguete indo pro espaço, vai ter vocês dois e a casa inteira junto, picadinhos pelos ares!
E foi só então que as duas crianças se deram conta do perigo que estavam correndo. Gasolina causa incêndios horríveis. Como não tinham pensado nisto antes? Envergonhado, Narciso disse timidamente:
  • Desculpa, mamãe, nós não pensamos direito. Tudo o que queríamos era ir até a lua para comer queijo...
  • Comer queijo na lua? - perguntou Dona Lúcia, mãe de Narciso.
  • Comer o queijo da lua – corrigiu Júlia.
  • Que história é esta?
E então Narciso e Júlia contaram para Dona Lúcia que a lua era feita de queijo – pelo menos foi isto que o primo da Júlia lhe dissera – e que estavam construindo uma nave espacial para ir até lá tirar umas lasquinhas.
Ao final da história, a mãe de Narciso já havia se esquecido do perigo, da bronca, de tudo. Estava às gargalhadas.
  • Só vocês, mesmo... - disse, rindo. - Em primeiro lugar, a lua não é feita de queijo, e sim de uma matéria rochosa. Em segundo, ainda que fosse feita de queijo, para chegar lá vocês precisariam estudar muito, tornarem-se astronautas e viajar numa nave apropriada. E em terceiro, para comer queijo vocês não precisam ter tanto trabalho. Eu acabo de trazer um queijo delicioso do mercado e vocês podem comer o quanto quiserem. Contanto que prometam se comportar e não se meter mais em confusão!
  • Nós prometemos! - disseram os dois, ao mesmo tempo.
Então Narciso e Júlia entraram e comeram queijo e queijo e queijo até se cansarem, sem nem precisar sair de casa.

E este seria o fim desta história, não fosse Narciso, além de guloso, curioso até não poder mais...
Ele ficou na dúvida entre quem estaria falando a verdade e resolveu tirar sua teima. Cresceu, sempre muito estudioso, e tornou-se um grande astronauta. Um dia ele chegou lá, na lua. Tocou no solo, viu do que era feito. Sorriu satisfeito e voltou para casa feliz...

Você quer saber se a lua é feita ou não de queijo? Então você pode ser um astronauta, como o Narciso. E, quando você descobrir, me conta!

Não gostou deste final? Tem outro:


E este seria o fim desta história, não fosse Narciso realmente o menino que mais gosta de queijo no mundo. Narciso cresceu sabendo distinguir os diferentes tipos, a origem, a
a consistência certa dos queijos. Tornou-se um renomado chef de cozinha, aplaudido no mundo todo por suas receitas de queijo. E Júlia, sua amiga de infância, continua sendo sua parceira. Até hoje é ela quem está ao seu lado, opinando na hora de decidirem o cardápio do restaurante que os dois montaram juntos...

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