sexta-feira, 31 de maio de 2013
Era um dia frio, frio, e tinha nevado muito. As crianças saíram da
escola aos pulos, felizes em comemorar o primeiro dia de férias. Todas,
menos uma. Pedro não via motivos para comemorar. Acabara de receber seu
boletim, e com ele, a notícia bombástica: não passara em matemática! Não
chegou a ser uma surpresa - passara o ano inteiro lutando contra as
equações – mas ainda tinha esperança de que, na última prova, teria se
saído bem. Mas, isto não aconteceu e, ao contrário dos amigos, Pedro não
estava de férias, e sim de recuperação. Teria que estudar durante o
final de dezembro e o mês de janeiro para fazer a prova de matemática em
fevereiro. Não teria descanso, como os amigos.
Pedro saiu com raiva da escola. Raiva de tudo: dos colegas, do diretor,
da inspetora, e, principalmente, da professora. Por que ela não tinha
sido mais generosa ao dar-lhe a nota? Se tivesse tirado uma nota muito
baixa, talvez entendesse. Mas, por apenas um ponto, perderia as férias
inteiras. Estava muito aborrecido.

Caminhava com passos grossos para casa quando deparou-se com um monte
de neve no meio do caminho. Parou, e, com movimentos bruscos, fez um
boneco de neve. Estava tão furioso que, sem notar, fez um boneco de neve
zangado. Muito zangado: seus olhos pareciam maus e sua boca, retorcida,
parecia prestes a dar um grito. Quando terminou, Pedro, estranhamente,
sentia-se mais leve. Estava pronto para ir para casa e dar a notícia aos
pais.
O que Pedro não sabia é que parte de sua amargura ficara ali, no boneco
de neve. Ele o fez tão irritado que deixou nele a sua fúria. E o pobre
boneco tornou-se, assim, uma grande massa raivosa de neve.
Os dias se passaram e o frio continuou. As crianças brincavam na neve
com seus trenós, construíam casas, castelos, bonecos. Tudo de neve. Os
bonecos eram risonhos e alegravam a vizinhança. Menos o boneco de Pedro,
que tinha a cara amarrada e o olhar malvado.
Todos perceberam que tinha algo estranho naquele boneco. Ninguém queria
brincar com ele, ninguém queria tirar fotos ao seu lado. Pelo
contrário: mudavam de calçada para não cruzar-lhe o caminho. Pedro, por
sua vez, há muito que já tinha esquecido de ter construído o boneco
zangado. Seus amigos passavam perto de sua casa, andando de bicicleta,
correndo. E ele, de castigo, preso à tal da matemática, ora maldizia a
professora, ora maldizia a disciplina.
O que ninguém sabia, no entanto, é que o boneco não era, na verdade, um
boneco zangado. Pelo contrário, era um amor de boneco! Pois este
bonequinho de cara fechada tinha sentido toda a raiva com que fora
construído,e, ainda assim, não se zangou. Queria encontrar o menino que o
fizera, dar-lhe um abraço, brincar com ele, confortar-lhe o quanto
pudesse. Sabia o quanto o menininho estava furioso E queria estar ao seu
lado, dar-lhe carinho, dizer-lhe 'tudo vai ficar bem, no final'. Mas,
não tinha chance. Ninguém parava ao seu lado, ninguém lhe perguntava
como estava. Não tinha chance de pedir a ninguém que lhe trouxessem o
menino. E assim o tempo ia passando.
Passou dezembro, passou janeiro. Em fevereiro, o frio estava mais
intenso do que antes. O boneco parecia cada vez mais zangado, coberto
com novas camadas de neve trazidas pelo vento. Quanto mais zangado
parecia, mais as pessoas se afastavam dele. E ele, coitadinho, numa
tristeza sem fim.
Um dia, o frio deu trégua e abriu um solzinho morno no céu. Um
passarinho, há muito escondido do frio, resolveu dar um passeio. Estava
voando baixo quando viu o boneco de neve, com a cara mais zangada do que
nunca!
Ao contrário dos outros, o passarinho não teve medo do boneco. Teve
pena. Por que alguém estaria tão enfurecido com algo. Parou ao seu lado e
perguntou:
- Tudo bem aí, amigo? A vida anda lhe dando muitos limões para você estar com esta cara tão azeda?
O boneco de neve quase não acreditava! Depois de tanto tempo, alguém para fazer-lhe companhia.
- Pelo contrário. A vida só me oferece limonada doce! Passo os dias vendo as crianças brincando, e sou feliz assim!
- Então por que esta cara tão fechada?
- Ah, isto é uma longa história...
E o boneco de neve contou, tintim por tintim, toda sua vida, a forma como fora feito, a vontade de reencontrar Pedro.
- Nossa! Que coisa, hein! - disse o passarinho, depois de ouvir a história todo. - Mas, escuta, eu posso te ajudar!
- Como?
- Ora, o menino amarrou a sua cara. Eu posso desamarrar!
- Você consegue?
- Amigo, com força de vontade a gente consegue tudo! - riu o passarinho- Deixa comigo!
E assim, o passarinho começou a catar sementes, folhas, tudo o que via
à sua volta. Ia trazendo e deixando aos pés do boneco que, curioso,
queria saber o que aquilo iria virar. Voou um pouco mais longe e achou
um cachecol perdido num banco da praça. Um pouco mais adiante, uma
cartola. E assim foi, trazendo tudo o que dava, até ter uma pilha de
coisas ao pé do boneco zangado.
- E agora? - perguntou o boneco.
- Agora é que começa o trabalho – disse o passarinho, começando a mexer no boneco.
- Cuidado, por favor! - pediu o boneco.
- Não se preocupe. Você vai ficar como novo! - garantiu o passarinho.
E o passarinho começou a mexer e remexer no boneco, sem parar. Levou
horas ajeitando cada cantinho do boneco, reparando em cada detalhe.
Quando terminou, o boneco era outro. Era impossível acreditar que era o
mesmo boneco. Ao invés da cara amarrada, o boneco agora exibia um largo
sorriso, e seus bracinhos de neve convidavam a um abraço. O boneco de
neve não cabia em si de felicidade.
- Nossa! Eu sou um outro alguém! - disse . - Eu nunca vou poder lhe agradecer o que você fez por mim.
- Claro que vai! - disse o passarinho.
- Como? - quis saber o boneco.
- Retribuindo minha amizade, ora! - riu o passarinho.
- Quanto a isto, não há dúvida! - riu o boneco, agora feliz.
- Ainda assim... - continuou o passarinho. - Você tem um sorriso feliz, mas um olhar triste.
- É o meu menino – respondeu o boneco – eu ainda não consegui dar-lhe meu abraço...
- Tenha paciência – respondeu o passarinho. - Quem sabe uma hora destas ele não passa por aqui? Enquanto isto, aproveite para brincar com as outras crianças que lhe visitarem.
- Você está certo – disse o boneco. - Obrigado, meu amigo. Pela ajuda e pela amizade.
- Ah, que é isso... - respondeu, um tantinho tímido, o passarinho.
Nos dias que se seguiram, várias crianças apareceram para brincar com o
boneco. Abraçavam-lhe, tiravam fotos. O passarinho vinha visitar-lhe
todos os dias e o boneco era só felicidade.
Até que, numa terça-feira, era o dia da prova de recuperação de Pedro. O
menino ia, tenso, para a escola. Estava pensando e repensando nas
equações. Aquela era sua última chance. Não podia falhar. Ia tão
compenetrado nas contas que fazia em sua cabeça que quase passou direto
pelo boneco de neve. Mas, o vento, que às vezes ajuda e outras
atrapalha, neste dia resolveu ajudar: levou a cartola do boneco pra
junto do menino. Ele, ao ver aquele chapéu engraçado, olhou ao redor
procurando o dono. Logo avistou o boneco e se aproximou.
- Aqui está, bonequinho. Trouxe-lhe sua cartola.
O boneco reconheceu Pedro imediatamente. Curvou-se, devagar, e deu-lhe
um abraço muito, muito forte. Um abraço que dispensava palavras, e que
dizia: 'estou aqui por você, e tudo vai ficar bem.'
Pedro não lembrava de ter construído o boneco, e, naquele momento, não
lembrava mais de raiva, de recuperação, de matemática, de nada. Todos eu
corpo foi coberto pelo amor que o boneco transmitia e ele sentiu-se em
paz. Ficou abraçado com o boneco durante muito tempo, até que disse:
- Preciso ir, bonequinho. Obrigado pelo carinho – e saiu correndo para a escola.

Quando
chegou à escola, Pedro estava feliz. Recebeu a prova, e pensou 'eu sou
capaz. Estudei bastante e vou conseguir me sair bem nesta prova.'
Prestou atenção extra aos enunciados, refez as contas. Não tinha pressa,
não tinha raiva. Estava calmo e concentrado.
Pedro tirou a nota máxima na prova. Prometeu a si mesmo que, no ano
letivo que se iniciava, seria mais atento e focado. Em todas as
disciplinas, especialmente matemática.
Quanto ao boneco de neve, ficou, finalmente, feliz de verdade. Pode,
afinal, ajudar o menino que o construíra, transformando sua ira em amor.
Ele e o passarinho continuaram amigos por toda a vida – mesmo quando o
calor chegou e a neve evaporou. O boneco virou uma nuvenzinha e foi voar
por aí junto com o passarinho...
Assinar:
Postar comentários
(Atom)
Curte aí...
Quem sou eu
Tecnologia do Blogger.
Arquivo do blog
-
▼
2013
(783)
-
▼
maio
(218)
- Pode colocar comentarios
- A matematica de sophia
- Como pode um peixe viver fora de agua fria?
- Coruja insone
- Minhoca frita?!?
- O circo
- O indiozinho
- Uma galinha diferente
- O leao
- Uma historia encantada
- Um anjinho levado
- Uma princesa de verdade
- A historia de um caminhazinho sozinho
- A ovelha cor de rosa
- A ciranda de anamaria
- O voo de leitao
- O grande roubo de mel
- O sono de pooh
- O nascimento de uma florzinha
- Alecrim dourado
- A girafa com torcicolo
- A cinderela das bonecas
- A primeira viagem
- O Menino sem amigos
- O segredo das borboletas- para mario quintana
- Cecilia no pais das maravilhas
- O polvo que nao queria casar
- O sapo que lava o pe
- Para matar uma saudade
- A historinha da nuvenzinha que queria virar chuva
- O boneco de neve zangado
- A coleçao grobo de neve
- O sapatinho de misael
- Uma historinha de renas- parte 1
- O menino que nao acreditava no papai noel
- Uma chuva diferente
- A partida de futebol
- Narcio queria ir na lua parte final
- Narcio queria ir na lua parte 1
- A Pituchinha
- Meu querido elefante
- Letra da musica dig dig
- Letra da musica sera voce
- Letra da musica o caderno
- Letra da musica nao faz mal
- Letra da musica beijo beijinho beijao
- Letra da musica ao mestre do carrinho
- Letra da musica mexe mexe
- Letra da musica minha curiosidade
- Letra da musica varinha de condao
- Escrevo historinhas em desde pequena?
- Fa clube larissa manuela
- Site larissa manuela
- Joao e maria letra
- Sol e lua
- Capas para facebook!
- Historia barbie moda e magia
- Meu amigo e um peixinho
- Joao mentirinha
- Meu malvado favorito!
- Esta chegando chiquititas
- Bom dia
- As barbie treiler
- A arca de noe
- Desenhos
- Larissa manuela
- Minha vida e uma historia
- Dicas de moda
- Sitio do pica-pau amarelo
- Turma da monica joven
- Turma da monica
- O menino que aperndeu a ver
- Maria joaquina
- Jogos
- Meninas
- Musicas da larissa manuela
- Jogos de fazendas
- O dia da independencia do brasil
- Quartos de decoraçoes infantil
- A amizade
- O dia das maes
- O dia das crianças
- O ano novo
- O natal
- Moda de menina aqui e o papo
- Chique bem
- Historia de princesas
- Maquiagem
- Carrossel rosa ferreira
- Carrossel professora suzana
- Carrossel diretora olivia
- Carrossel miguel medsen
- Carrossel matilde
- Carrossel jurandi de souza
- Carrossel jonas palilo
- Carrossel ies carrilho
- Carrossel frederico carrilho
- Carrossel firmino gonçauves
- Carrossel Graça
- Carrossel Eloisa palilo
-
▼
maio
(218)
0 comentários:
Postar um comentário