sexta-feira, 31 de maio de 2013
Se conheceram por acaso, sem que ninguém pudesse adivinhar o quanto se amariam. Ele, com apenas dois anos de existência, não sabia dizer quando o vira pela primeira vez. Ele estava ali, ao seu alcance, desde sempre: estava em seus livros, em um brinquedo de pelúcia, em um jogo de memória e até mesmo em uma de suas camisetas. Mas ele o amou mesmo, de verdade, quando o viu através da tela da televisão da sala. Estava em todo seu esplendor, rolando na lama, jogando água para o alto, correndo. Ele, o elefante. E o menino encantou-se com aquele novo amigo.
O elefante, claro, o amou de volta. Porque elefantes são bichos grandes, com corações imensos que amam enorme. O menino sentia este amor. Logo, tornaram-se melhores amigos. Dia e noite o menino repetia que queria ver o elefante. O pai ligava a televisão e lá estava ele, fazendo graça, rindo feliz. A cada dia os dois se enamoravam mais um do outro. O elefantinho de pelúcia, até então apenas mais um brinquedo, passou a ser o companheiro da hora de dormir. Os livros iam com ele para a escola, onde ele mostrava a todos os amigos seu maior amigo. Todos gostavam dele, todos o queriam por perto.
Um dia, o menino resolveu que era muito chato ele ficar sentado na sala, com o elefante dentro da televisão. Era muito melhor se o elefante estivesse ali, ao seu lado, brincando de carrinho com ele. Pediu para a mãe, para o pai, para a avó, para o padrinho. Pediu para quem estivesse por perto. Queria muito, muito, muito um elefante de estimação. Um elefante só para ele, para lhe fazer companhia o tempo todo. Nada. Todos disseram a mesma coisa: 'elefante não é animal de estimação!'
Ficou triste, triste. Queria tanto um elefantinho para chamar de seu... Passou dias amuado, pensando nisso. O pai notou. No sábado, deu-lhe banho, colocou uma roupa de sair e anunciou:'tenho uma surpresa!' Saíram de carro. Quando pararam, o menino não sabia onde estava. Mas gostou do que viu.
Aquele era um sábado de sol, um dia perfeito para ir ao zoológico. O menino já tinha estado ali com os pais, mas era tão pequeno que não se lembrava mais. O pai o pegou pela mão e, pelo caminho inverso, entrou no zoológico buscando o elefante. No caminho, pararam para ver os macacos, o leão e a girafa. O menino gostou de todos. E então, no canto, ele estava parado. Enorme, enorme, enorme. Muito maior que nos livros e na televisão. Quieto, melancólico. O elefante.
O pai tinha certeza que o menino daria pulos de alegria. Mas, ao contrário do que se pensava, o menino olhava para aquele animal imenso com um misto de curiosidade, respeito e medo. Não esboçou um sorriso, não faz uma gracinha. Olhava-o fixamente, como se quisesse gravar cada detalhe do bicho. Ficou parado, diante dele, durante um bom tempo. Até que o animal levantou de seu cansaço e aproximou-se deles. O menino pediu colo e quis ir embora. Dormiu no caminho de volta para casa.
Quando chegaram, o menino não pediu para ver o elefantinho na tevê. Foi para o quarto, pensativo. Brincou de carrinhos durante horas. Então, saiu do quarto e pediu à mãe lápis e papel. Rabiscou, rabiscou, rabiscou. Ao final, disse alto: 'elefante!' e deu significado àquelas linhas disformes. O pai e a mãe aplaudiram: 'muito bem!' Ele sorriu. Dobrou o papel em quatro partes, colocou no pequeno bolsinho que ficava na camiseta, com todo cuidado. A mãe estranhou:
  • Filho, você vai guardar seu desenho na blusa? Vai acabar perdendo! Vamos colocá-lo na geladeira, para todo mundo ver.
O menino olhou-a com espanto.
  • Não é um desenho, mamãe. É um elefantinho. O meu elefante! Ele veio comigo escondido e agora mora aqui no papel, dentro da minha blusa.
A mãe sorriu, feliz, da doçura do filho. 'Como é bom ser criança e ter tanta imaginação.'
O filho sorriu, triste, do ceticismo da mãe. 'Como é ruim ser adulto e esquecer que podemos guardar quem nós quisermos dentro do coração'.

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