terça-feira, 4 de junho de 2013
Era uma grande floresta, onde viviam muitos animais. O ar era fresco, a grama
macia e o rio, cristalino. As cores da flores faziam com que todo o
lugar parecesse um enorme e bem-cuidado jardim. Mas, ainda assim, por
algum motivo desconhecido, a floresta era triste.
Os bichos que viviam ali estavam sempre com aquele ar de 'me-deixa-quieto-aqui', cada um curtindo uma fossa diferente. Uns desanimavam-se com o trabalho, outros com a falta de dinheiro. Havia quem se entristecesse com a situação política, outros choravam causas religiosas. E haviam muitas, muitas dores de amores. Cada um tinha um motivo, e todos eles eram válidos. E assim, naquela floresta a melancolia não tinha fim.
Só que tinha
um bichinho, uma pequena lagarta, que descurtia aquilo tudo. Ela não
tinha esta tendência dos outros a ficar triste, e passava a vida indo de
um em um dizendo ' vamos lá, alegria!'. Sorria muito, e para todos, o tempo inteiro. Tentava irradiar bom humor, contagiar aos demais. Mas os outros estavam tão encimesmados em suas tristezas que não lhe davam pelota.
A lagarta
não desistia. Ela dizia que a felicidade está dentro de nós, tal qual a
tristeza. E que ser feliz é uma escolha de vida. Repetia isto sem
parar, nos quatro cantos da floresta, tentando influenciar alguém. Nada.
O pessoal dali curtia muito ser triste. Especialmente os das dores de
amores: ô gente para gostar de uma dor de cotovelo! A lagarta dizia que
eles amavam mais a tristeza do que os amores perdidos, mas eles nem tchuns! Ficavam ali naquela, naquele marasmo eterno, olhando para trás e reclamando do que passou.
Por ser sempre tão alegre, a lagarta tinha o cuidado de não se deixar
contaminar pelo clima do lugar. Quando ela achava que estava começando a
ficar sem energia, corria para as flores. Ia
de uma em uma, pulando como se pula amarelinha, indo para lá e para
cá, sempre rindo, cantando alto, fazendo uma bagunça danada. As flores, que adoram uma gente feliz, adoravam tê-la ali e caprichavam em seus perfumes quando recebiam a ilustre visita.
Um dia, depois de pular e brincar muito no meio das flores, a lagarta
sentiu um cansaço enorme, um destes cansaços mortais que dominam uma
pessoa. Era chegada a hora, ela sabia. Aninhou-se em uma árvore e fez um
casulo, dormindo um bom tempo aquele sono da transformação.
Enquanto
a lagarta dormia, a floresta foi ficando cada vez mais e mais triste,
com os bichos cada vez mais deprimidos, cada um amargando a sua dor. O
lugar foi se tornando, aos poucos, uma floresta de vidas sem vida.
Até que, numa tarde de sol, a lagarta acordou de seu sono. Crec, crec,crec, o casulo começou a ser quebrado, de dentro para fora. E eis que saiu dele, então, não mais a velha lagarta, mas uma nova e linda borboleta.
A borboleta era a coisa mais linda do mundo! Tinha asas enorme,
completamente coloridas. A borboleta trazia consigo as cores de todas as
flores e uma felicidade do tamanho do mundo. Voava lindamente e estava
disposta a afastar a tristeza dali, de uma vez por todas. Arranjou uma
violinha e logo no seu voo inicial pela floresta, arriscou um sambinha
'é melhor ser alegra que ser triste, alegria é a melhor coisa que
existe, é assim como a luz no coração...' Ficava repetindo estes versos
como seu fosse um disco quebrado.
Parou ao lado de uma colmeia entoando seu sambinha. A rainha abelha
curtiu o som, e mandou que as operárias acompanhassem a borboleta no
sambinha. Em dois tempos não havia mais tristeza na colmeia, e a rainha
mandou que algumas abelhas pegassem um bocado de mel e espalhassem por
aí.
As abelhas foram seguindo a borboleta, umas acompanhando no samba, outras levando o mel. Iam
numa felicidade de dar gosto e acabavam fazendo graça. Os outros
bichinhos, aos pouquinhos, começaram a entrar naquela onda, e foram
deixando a tristeza para lá. Alguns demoraram mais, estavam muito
acostumados com a vida que tinham e não queriam mudar. Mas foram
cedendo, também, com
o passar dos tempo. O mais difícil foi convencer o pessoal das dores de
amores. Estes ficaram tanto tempo naquela amargura do que tinha passado
que não conseguiam ver que a vida é um grande presente, e por isso o samba existe.
Mas como a borboleta era teimosa que só ela, não se deixava vencer pela
melancolia. E continuava cantando e cantando e cantando sem parar.
Ficava sem voz e continuava ali, rouca, num samba sem fim. E aí não teve
jeito. Até aqueles das dores de cotovelo cederam e caíram na música: 'é
melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é
assim como a luz no coração...'
E aquela floresta, tão bonita e tão tristonha, agora só há cor e música! Os bichinhos que vivem ali estão
sempre alegres, mesmo quando ficam tristes. Sim, porque a tristeza
existe. Mas eles descobriram que a felicidades mora dentro de nós.
Então, quando a tristeza chega,
numa destes momentos de dor em que ela tem que chegar, eles param um
minutinho. Ficam ali, de cara com ela, e choram um pouquinho. Daí,
enxugam as lágrimas, deixam-nas ali, naquele instante solitário
de melancolia. E se preparam para cair no samba: 'e melhor ser alegre
que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe...' Porque é muito
melhor ser feliz mesmo!
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