segunda-feira, 17 de junho de 2013
Lua teimosa, não saía do céu e já ia dar meio-dia. É que o sol não tinha aparecido, atrasou-se sei-lá-eu o porquê.
 
Daí a Lua viu o céu assim, todo azulado e ocupou o espaço mais e mais até esponjar-se toda e ficar. Mas lugar de lua não é neste céu de meio-dia, era o que diziam as nuvens, algumas irritadas, outras nem tanto e outras nem nada diziam, só nuvavam.

Mas a Lua não se importava, não ligava, não dava ouvido a nada, até porque Lua não tem ouvido mas escuta e muito bem. 
 


Ficava no céu e pronto. 


Até que achava muito bom ver o dia nascer de vez em quando.
Era época de lua minguante e por isso, andava  a Lua  tão fina de quebrar; meia-lua,  meio-dia, meio clara meio escura, vivendo o espaço do Sol.
Bem, mas como não estava acostumada a ficar assim, acordada de dia, danou a Lua a bocejar... abrir aquela boquinha disfarçada, depois aquele bocão de Lua quando está com sono... por descuido, engoliu até algumas nuvens e brincou de algodão-doce no céu. Ali, pestanejou e dormiu.
Dormiu e sonhou.
O sonho da Lua minguada encheu-se de Sol.
Sonhou pipa,  pássaros, poesia. Sonhou cisnes, saveiros e  sereias. Sonhou várzeas, vidas e ventos.  Sonhou lírios e lábios.
 
Sonhou liberdade.
E o sonho, de tão sonhado, brincou  enrolado em estrelas, dependurou-se em arco-íris, balançou-se qual criança feliz. 
 
 
Iluminou campos e rios. Então, imensamente nova, a Lua acordou.
  Com o entreaberto do olho, pôs-se a rir (aquele risinho de dentro que ninguém sabe que é riso). Achou engraçado todo mundo esperar o Sol. E ficou a Lua, teimosamente no céu de meio-dia que já quase a pertencia. Bem verdade que uma tarde era vinda posto que a Lua havia adormecido por uma hora e alguns outros minutos que não sei  bem o quanto.  E uma noite logo surgiu e de novo o dia...
As primaveras foram vindo e indo.

Os invernos e os verões.
Outonos varavam.
Era um crescer e um minguar, um encher e um novar sem fim.

A cabeça dos "lá-de-baixo" não entendia nada.
- Afinal, por onde andaria o Sol?
Umas bocas reclamavam. Alguns olhos só olhavam. Outras pernas só passavam e teve quem nem sentisse nada diferente. E foram parando de reclamar. Foram parando de olhar até que foram se  acostumando e se acomodando sem o Sol.

As plantas e os bichos também muito sentiram,  depois nem tanto até que aprenderam a viver com os raios prateados da Lua que tomava cada vez mais conta do céu.

O tempo foi passando.
(.....)
Um dia desses, em que a Lua já havia feito ninho no céu pois  tinha pertences de lua por toda parte: orvalho pros cabelos e batom prateado, vestidos rodados e coloridos, sapatos de saltos os mais variados além de outros apetrechos...  pois é... nesse dia, o Sol apareceu. 
Estava meio avermelhado de vergonha, meio atrasado, 
 
quer dizer, muito atrasado... - quantas luas haviam passado?  Muitas luas. Poucos sóis.
Ele foi logo dizendo que...mas... sabe? Bem...  não ia demorar, porém, sabe como é que é, né? Tão somente, todavia, contudo,  estava cansado; e agradecia à Lua por ter lhe dado férias mas... agora poderia   deixá-lo a sós com o céu...
- A  sós, Sol?

E a Lua  dizia que os  "lá-de-baixo" não sabiam mais quem ele era, o que fazia... tinha sido muito tempo, muita hora, ora ora!

Dai que o Sol, educadamente, foi conversando com a Lua , contando-lhe bonitas histórias de raios e luzes que existiam do outro lado do mundo. E, como ninguém resiste a uma boa história, a Lua foi-se deixando seduzir e quando deu por si, já era o Sol se abrindo no céu com toda sua cor aboborada, alaranjada, avermelhada. 
Com todos os seus raios, seu poder e sua magia.
Foi acordando as pessoas daquele sonho longo de Lua, foi abrindo as gavetas, as roupas e as caras dos outros, foi trazendo sorriso e encanto; foi deixando para trás um outro tempo.
Expandiu-se.
 
Abraçou o céu.
Raiou.
(.....)


Era assim que a minha avó explicava para mim sobre aqueles dias nublados em que havia  lua no céu.

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