domingo, 23 de junho de 2013
Era uma vez um fio de nylon que vivia infeliz por ser incolor.
Todos os dias desejava ser como os fios de lã que ficavam guardados na caixa de bordado.
Lá havia miçangas de várias cores, alfinetes com cabeça de acrílico colorido, agulhas douradas e muitas outras maravilhas multicores.




Mas ele , de longe, ficava a sonhar com aquele ambiente multicor.
Muito tempo se passou e o fio de nylon percebeu que sua história de vida era longa, enrolado naquele carretel contido, por muito tempo, na caixa de pescaria, enquanto as miçangas e fios de lã já não viviam em sua antiga caixa de bordado.
 
Todos viviam agora nas toalhas de rosto e banho, nos panos de pratos e nas roupas utilizadas pelas pessoas que moravam naquela casa:uma bordadeira, um professor e seus filhos.
 
 
 
Um dia, percebeu que a casa acordara agitada e feliz.
 
 
 
 
 
 
 
Estavam todos de férias e iriam passar uma temporada na praia.
 
 
 
 
 
O professor logo pegou sua caixa de pescaria, pois ensinaria os filhos a arte de pescar.
O carretel sentiu-se retesado e preparado para enfrentar uma nova etapa de sua vida e notou, ao mergulhar, como era importante que ninguém o enxergasse naquela nova missão submarina.
 
 
 
 
Conheceu uma maravilha jamais vista por ele: era um mundo multicor, onde fez novos amigos e ficou fascinado com o fundo do mar.
Lá, havia formas e cores muito originais e extasiantes.
 
 
 
Passou a ter sonhos e se sentir muito importante. Afinal, ouvia todos os dias o professor alertar os filhos:
- Não esqueçam de pegar o carretel de nylon, pois sem ele não haverá pescaria.
 
Ao retornar a casa, percebeu que as toalhas e roupas bordadas estavam muito gastas e desbotadas.
As lãs partiram alguns fios, as cores desmaiaram com as lavagens e muitas miçangas estavam deformadas com o calor do ferro.
 

Assim, foram logo colocadas na gaveta de peças gastas.
 
 
Mas o carretel de nylon, que residia na caixa de pescaria, bem próxima à gaveta, descobriu um novo ofício e passou a narrar sobre a beleza do fundo do mar, os novos amigos adquiridos e a importância de ter conhecido anteriormente as lãs e as miçangas, pois foram elas que lhe ensinaram as cores que há na natureza. Falou-lhes de todas as cores encontradas no fundo do mar e Relatou-lhes que no fim do dia, as cores da natureza desbotam para que todos possam descansar em paz.
O desbotar das cores é um presente abençoado por Deus.
 
Contou-lhes também que o vento, o cheiro da maré, o canto da gaivota e o gosto do sal são inteligentemente transparentes, para que os homens possam ver com outros olhos que não necessitam da visão.
 
 
No fiar das histórias, todas as tardes, descansavam em paz as lãs e as miçangas com suas cores desbotadas  e o carretel de nylon que aguardava pacientemente por um novo momento de pescaria.

E assim, o tempo corria lentamente, entre cores suaves e a transparência
da beleza de viver...

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