quarta-feira, 26 de junho de 2013

Era uma vez uma boneca de trapos. Feita pelas mãos pequenas de uma Menina.
Feita de trapos azuis, vermelhos, verdes, amarelos, rosas, violetas, cor-de-laranja.
Feita de trapos, de espanto à maneira que nascia.
E de flores. Eram flores aquelas cores do arco-íris.
E dois olhos bordados a retrós, com duas contas negras de vidro a servirem de meninas. As meninas negras dos olhos.
Dois olhos sempre abertos que nunca adormeciam. Sempre à espera de ver nascer o Sol.
E a Menina, que fizera a boneca por suas mãos, embalava-a.
Para a adormecer.
E sabia que aqueles olhos negros não se fechariam nunca, nunca.
Como se fecham os olhos das bonecas ricas que têm pálpebras delicadas e pestanas de seda. Subindo e baixando.
E a Menina cantava para a adormecer. Com uma voz fininha feita de luz e ternura.
E a boneca ─ porque era de trapo ─ aconchegava-se nos braços pequenos da Menina.
E dormia de olhos abertos. Dormia a ver o Sol.
Toda ela espanto e flores. As meninas negras dos olhos — contas a brilhar.
E a Menina que fizera a boneca, que a cosera de muitos trapos ─ com agulhas de Chuva, dedais de Sol, linhas de Lua ─ dizia, parando de cantar:
─ Ela adormeceu…
E ficava muito quietinha, também, a olhar o Sol. Com a boneca aconchegada ao peito. Ambas de olhos abertos.

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