quinta-feira, 13 de junho de 2013
Esta é a história de uma menina nascida de uma flor e que sendo tão
pequenina muitas aventuras viveu.
Criada com todo o amor pela jovem Vicentina, vejam como nossa heroína tudo
enfrentou com valor.
Era uma vez uma moça que gostava muito de flores. Chamava-se Vicentina.
Passava todo o tempo livre cuidando do seu jardim, podando, adubando,
regando as plantas. Mas vivia sozinha e triste, pois não tinha com quem
conversar. Um dia, as flores, que ela tratava com tanto carinho, reuniram-se
e decidiram ajudá-la. Então deixaram cair uma semente especial. Vicentina
encontrou a sementinha e . . .
- Que semente estranha! Talvez dê uma linda flor . . . Vou plantá-la
neste vaso.
A sementinha germinou. Devagarinho foram surgindo as folhas, primeiro uma
depois outra e mais outra . . . Até que apareceu uma linda flor vermelha.
Era uma tulipa, tão grande e bela que Vicentina ia admirá-la todos os dias.
Quando a flor se abriu, no meio das pétalas apareceu uma menina loura e bem
pequenina.
Bom dia, ó Vicentina! Não fique tão espantada, por ser eu tão
pequenina, Pequerrucha sou chamada.
Se comigo for boazinha, sua filha eu serei. Junto de minha
mãezinha para sempre ficarei.
- Oh! Como estou contente! - exclamou Vicentina. - Este é o mais belo
presente que minhas flores poderiam me dar!
Vicentina levou Pequerrucha para casa. Com uma casca de noz fez um bercinho
para ela e cobriu-a com uma pétala de rosa. O tempo foi passando, mas
Pequerrucha não crescia nem um milímetro. Vicentina sentia-se feliz por ter
em casa uma filha, embora pequenina. Pequerrucha tinha uma bela voz e sempre
cantava para alegrar Vicentina.
Pequerrucha - Lindas flores da margarida, meus cabelos são
dourados, pelo vento ondulados e cantando levo a vida.
Velho Sapo - Com moça bonita, tão bonita, meu filho quero
casar. Falo sério, não é fita. E uma bela festa vamos dar!
Uma tarde, Pequerrucha estava cantando e um velho sapo a ouviu. Nessa mesma
noite, o velho sapo entrou na casa de Vicentina. O vidro da janela estava
quebrado e ele passou pelo buraco.
Parou um momento para olhar a menina, que dormia serenamente. Como era
linda! O velho sapo não resistiu, raptou-a com berço e tudo. Quando o filho
do sapo viu a menina, achou- a tão bonita que quis acordá-la imediatamente.
- Quero ver a cor dos olhos dela! - disse ele.
- Espere, meu filho. Não tenha pressa. Se você acordar já, ela pode se
assustar e fugir correndo. Devemos fazer outra coisa:
Enquanto ela está dormindo, vamos colocar o berço, sobre uma folha bem
grande, no meio do lago. Assim, ela não poderá escapar.
Quando Pequerrucha acordou, levou um susto enorme ao ver que estava no meio
do lago, em cima de uma folha tão grande. O filho do sapo foi logo dizendo:
- Bom dia, menina. Amanhã você estará comigo.
O que? Casar com um sapo? Nunca! - exclamou Pequerrucha aterrorizada.
Depois, olhando ao redor, perguntou: - Onde estou? Onde está minha mãezinha?
- Não adianta gritar nem chorar! - disse o filho do sapo. - Está tudo
decidido: você vai casar comigo.
Pequerrucha começou a chorar e os peixes do lago ficaram com pena dela.
Resolveram salvá-la. Mas como? O único jeito era empurrar aquela folha para
longe dos sapos. Assim, Pequerrucha afastou-se deles, mas também da casa de
Vicentina.
A folha foi boiando sobre a água. Depois de muito tempo chegou à margem.
Pequerrucha desceu e começou uma nova vida. Ela caminhava entre as plantas e
flores. Era primavera, havia passarinhos cantando por perto. A menina
sentia-se feliz.
Veio o verão, depois chegou o outono. As primeiras chuvas começaram a cair.
Pequerrucha não tinha uma casa onde se abrigar. Procurava esconder-se
embaixo das folhas maiores, mas acabava sempre ficando molhada. Choveu muito
até que veio o inverno. Bastava um floco de neve para cobri-la inteirinha!
- Oh, como é duro ser tão pequenina e não ter onde morar! - pensava
Pequerrucha, tremendo de frio.
Por isso resolveu deixar a floresta. Caminhou durante muito tempo. . .
Chegou a um campo onde havia umas hastes de capim e lá no meio uma estranha
casinha. Pequerrucha bateu à porta.
- Entre! - disse o velho rato, dono da casa. - Oh, como você está gelada!
Pode ficar morando comigo durante todo o inverno. Quero que me conte belas
histórias!
- Não sei contar histórias, mas sei cantar - respondeu Pequerrucha. E
começou:
Senhor rato hospitaleiro, desta casa cuidarei, sem descanso o
dia inteiro. E cantigas cantarei.
Pequerrucha cantou várias canções para o velho rato. Sentado em sua cadeira,
ele ouvia encantado. Pequerrucha ficou morando ali. O tempo passava
depressa. Durante o dia tinha muito o que fazer: arrumava a casa, preparava
o almoço, cuidava de tudo. De noite, alegrava o velho com suas canções. Ele
estava tão contente com Pequerrucha, que não se cansava de elogiá-la:
- Você tem uma bela voz. Ficaria a vida ouvindo você cantar! Gosto tanto de
música. . .
Uma noite, quando Pequerrucha parou de cantar, o rato falou:
- Tenho um vizinho que está procurando esposa. Ele é muito rico e de boa
família. Seria um bom marido para você. Não quero forçá-la, mas é preciso
pensar no futuro. Hoje ele virá me visitar.
Daí a pouco chegou o vizinho. Era uma toupeira elegante e distinto. Tinha o
pelo negro e brilhante, mas detestava o sol. era tímido e não enxergava bem.
Apesar disso, assim que viu Pequerrucha, achou-a linda e ficou apaixonado.
- Sou muito trabalhador - foi dizendo o toupeira - e tenho uma boa posição.
Venha, vou mostrar-lhe minha casa, que é bem grande, cheia de galerias! Só é
um pouco escura. . .
O toupeira prendeu na boca uma espécie de lanterna e entrou num buraco
debaixo da terra. Foi mostrando a Pequerrucha os túneis que cavara, dizendo:
- Tudo isto é serviço meu, está vendo? Gosto de trabalhar. . .
- Não faço como esta andorinha - continuou o toupeira - que passou o verão
voando e agora está aí, caída no chão, sem poder voar mais! Estragou o teto
da minha galeria e não consegue sair daqui! Vai acabar morrendo de frio. Eu,
ao contrário, sou previdente, estou sempre pensando no futuro.
Pequerrucha aproximou-se da andorinha e viu que ela ainda estava viva.
- Oh, pobrezinha! - exclamou. - Preciso fazer alguma coisa por você. Não
posso deixá-la morrer de frio.
Pequerrucha acariciou a andorinha, pensando no que poderia fazer para
salvá-la. Teve uma idéia e saiu depressa.
Logo Pequerrucha voltou, trazendo um grande punhado de algodão, o maior que
pode carregar. Cobriu com ele o corpo da andorinha, dizendo:
- Assim, você não sentirá frio. Mais tarde voltarei para trazer comida.
- Muito obrigada! - disse a andorinha - Você está salvando a minha vida!
Assim que eu recuperar as forças, vou levantar voo, em busca de lugares mais
quentes, onde haja sol. . . Quando parti com minhas companheiras, para
nossa longa viagem de outono, não sei o que aconteceu: caí ao solo e não
pude mais voar! - Não consigo respirar, neste lugar sombrio - continuou a
andorinha. - Falta-me o ar!
- Também não gosto daqui - disse Pequerrucha. - Mas o toupeira detesta a luz
do sol. . .
- Assim que puder, sairei daqui - concluiu a andorinha, dormindo em seguida.
O inverno foi longo, mas quando chegou a primavera a andorinha estava pronta
para partir.
- Venha comigo. Pequerrucha! Suba nas minhas costas, eu a levarei! -
convidou a andorinha.
- Não fica bem - respondeu Pequerrucha. - O rato foi muito gentil comigo,
abrigou-me durante todo o inverno. Agora, que é primavera, não posso
abandoná-lo! Ele quer que eu me case com o toupeira. . .
- Tem razão, menina. . . Mas você não é como o toupeira. Não poderá
viver sem tomar sol. Pense nisso!
E a andorinha levantou voo e partiu.
" Com os fios pelas aranhas bordados, Pequerrucha belo
enxoval prepara: roupas de fina seda e brocados que mesmo uma princesa
invejara.
Amanhã é o dia do casamento e o "sim" então deverá ser dito.
Grande é do Toupeira o contentamento. Mas o coração dela está
aflito."
Pequerrucha pos-se a tecer seu vestido de noiva com os fios finíssimos que
as aranhas faziam para ela. Passou o verão, veio o outono. Chegou o dia
marcado para o casamento.
O toupeira, todo elegante, de botas e cartola, veio buscar a noiva.
- Bom dia, querida Pequerrucha. Hoje vamos nos casar. . . Este é um grande
dia para mim! Se eu soubesse falar bem, faria um belo discurso!
- Oh, não é preciso! - respondeu Pequerrucha.
- Você está pronta? - perguntou o toupeira.
Pequerrucha ia responder, mas viu o sol, dourado e quente. . . Ficou parada,
a admirá-lo.
- Você gosta do sol, não? - perguntou o toupeira. - Mas luz dele é forte
demais, não a suporto! Prefiro viver no escuro, lá no fundo de minhas
galerias. . . Vamos! Venha depressa. . .
Pequerrucha sentiu um aperto no coração. Não podia estar feliz, sabendo que
ia morar a vida inteira debaixo da terra. . . Saiu correndo pelo campo
para sentir o calor do sol pela última vez.
Mas, de repente, ouviu um bater de asas ali perto! Oh! Era a andorinha que
ela salvara da morte no inverno! A andorinha pousou perto de pequerrucha e
vendo que a menina estava chorando, perguntou o que era. Depois disse:
- Depressa, Pequerrucha, suba nas minhas costas. Ainda é tempo! Segure-se
bem, eu a levarei para longe daqui!
Pequerrucha olhou ao redor. Disse adeus aos dois amigos, acenando com a mão.
Depois, saltou para as costas da andorinha. . . e fez uma viagem
maravilhosa para um país distante.
Era um lugar maravilhoso, onde cresciam muitas flores. Em cada uma delas
morava um ser pequenino com asas. A andorinha colocou Pequerrucha na flor
mais bela do jardim. Encantada com toda essa beleza que a rodeava,
Pequerrucha começou a cantar:
"Mal acredito no que vejo e é tão grande a novidade, que
outra vida não desejo, senão esta felicidade!"
Pouco depois, todos os habitantes dali rodearam Pequerrucha. O mais belo
deles, o rei das flores, ofereceu-lhe uma coroa de ouro.
- Seja bem vinda! - disse ele. - Você será minha esposa. E como presente de
casamento vou lhe dar duas asas transparentes, iguais às nossas. Eu tinha
ouvido falar de você por uma fada, mas não sabia que cantava tão bem! Como é
seu nome?
- Eu me chamo Pequerrucha, majestade.
- Vou lhe dar um novo nome. De hoje em diante você se chamará Maia e será a
rainha das flores!
Pequerrucha, entre resplendores, como rainha foi coroada para reinar sobre
as flores. Se numa noite enluarada ouvires canção que não sei, é ela que
canta para o rei. . .
Conto de Hans Christian Andersen
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