domingo, 10 de novembro de 2013
O Apanhador de Sonhos

Bem cedinho, antes mesmo de todos acordarem, Zacarias percebeu que aquele seria um sábado maravilhoso. Duas zebras e um enorme cachorro peludo estav


am bebendo água no chafariz de seu jardim. Há meses Zacarias vinha pedindo aos pais um cachorro como aquele.

- Esperem por mim! – ele gritou, calçando o tênis.

As zebras saíram galopando pelo jardim assim que Zacarias abriu a porta. O cachorro correu atrás delas. Quando Zacarias ia persegui-los, notou outra coisa estranha. Na entrada de suas casa havia um caminhão com os pára-lamas sujos.Um velho baixinho estava de pé em cima de um caixote, olhando dentro do capô. Ele vestia um macacão com botões brilhantes.

- Bom dia – disse Zacarias. – Quem é você?

- Leia o que está escrito na porta – sugeriu o velho, sorrindo.

- Apanhador de Sonhos. – Zacarias leu em voz alta e perguntou espantado: - O que isso quer dizer?

O Apanhador de Sonhos tirou a cabeça de dentro do capô e sorriu. Ele tinha bochechas rosadas e olhos tão azuis como as tardes de verão.

- Você já pensou no que acontece com seus sonhos? – ele perguntou a Zacarias.

Zacarias balançou a cabeça negativamente.

- Ah, não? Bem, eu venho de madrugada e recolho todos. É regulamento da prefeitura – explicou o Apanhador de Sonhos.

- Uau! E o que acontece se você não recolhe os sonhos? – perguntou Zacarias.

- Isso seria um desastre! – exclamou o Apanhador de Sonhos. – Quanto mais a manhã se aproxima, mais reais se tornam os sonhos. Uma vez tocados pela luz do sol, eles permanecem para sempre. Imagine! A cidade ficaria abarrotada de sonhos!

Naquele momento, dois piratas apareceram na rua.

- Eles eram do sonho de alguém? – perguntou Zacarias.

- Sim – respondeu o Apanhador de Sonhos, enquanto voltava a trabalhar no motor.

Zacarias o ouviu resmungar algo a respeito de anéis de pistão. – Seu caminhão enguiçou? – ele perguntou.

- É. Não quer pegar e eu esqueci minha caixa de ferramentas – o Apanhador de Sonhos parecia preocupado.

- Posso pegar algumas ferramentas em casa – ofereceu Zacarias. – O que você precisa?

- Você pode me conseguir uma chave de vela, um verificador de bateria e um jogo de chaves de boca?

Zacarias correu até a garagem e olhou para as ferramentas de seu pai. Ele não sabia bem como se chamavam. O único jogo que viu foram uns apetrechos de beisebol que pareciam muito usados. Ele encontrou o verificador de bateria, mas não sabia qual das chaves era a certa. Pegou uma porção delas para que o Apanhador de Sonhos pudesse escolher.

Assim que Zacarias voltou ao caminhão, o cachorro peludo passou correndo, perseguindo três coelhos.




- Ei, aquele cachorro era do meu sonho! – exclamou, surpreso, Zacarias. – Eu queria tanto ter um cachorro como aquele.

Naquele momento havia sonhos por toda parte. O Apanhador de Sonhos olhava à sua volta ansiosamente.

- A rua já deveria estar desocupada – ele se lamentava.

– Em breve o sol nascerá. Isso é muito sério.



Ele apanhou uma ferramenta das que Zacarias havia trazido, mas Zacarias achou que era pequena demais para um caminhão tão grande. Será que o Apanhador de Sonhos sabia o que estava fazendo?

- Posso ajuda-lo a consertar o caminhão? – perguntou Zacarias. – Uma vez consertei o aspirador de pó da minha mãe, depois que ele aspirou meus brinquedos.

O Apanhador de Sonhos sorriu.

- Caminhões e aspiradores são bem diferentes por dentro. Mas, talvez, você possa fazer um serviço especial para mim.

- O quê? – perguntou Zacarias.

- Talvez você possa colocar os sonhos para dentro do caminhão. Mas alguns sonhos, como o cachorro, podem ser difíceis de pegar – ele falou com um brilho no olhar. – Você acha que consegue fazer isso?

- Oh, sim, eu consigo – respondeu Zacarias, todo empolgado.

Então Zacarias entrou em casa e escolheu cuidadosamente as coisas de que necessitaria para capturar os sonhos. Quando voltou, o sol já estava nascendo. Ele teria de ser rápido.

As cenouras e a corda funcionaram bem, e logo as zebras estavam dentro do caminhão. As araras gostaram do apito prateado.

- Este trabalho é moleza – disse Zacarias.

- Agora vou procurar o cachorro peludo.

Zacarias ouviu latidos no quintal do vizinho e foi investigar. O cachorro estava saltando por entre anéis de fogo que um dragão soltava pela boca.

Naquele instante um cavaleiro de armadura apareceu no quintal e, vendo o dragão, puxou sua espada. O cachorro saiu correndo.

- Volte aqui! – gritou Zacarias, mas o cachorro continuou correndo.

Quando o cavaleiro ergueu a espada, o dragão empalideceu de pavor. Felizmente, naquele momento um cavalo enorme saiu trotando do canteiro de rosas.

O cavaleiro guardou sua espada e, todo feliz, abraçou o pescoço do cavalo.

- Puxa – sussurrou Zacarias -, essa foi por pouco.

Agora o quintal estava repleto de sonhos.

- Sigam-me todos! – ordenou Zacarias, mostrando o caminho.

Um a um, os sonhos foram subindo a rampa para dentro do caminhão. Zacarias suspirou aliviado. Só faltava o cachorro.

Zacarias seguiu novamente pela rua, assobiando para chamá-lo. O latido do cachorro parecia vir de dentro de uma moita.

- Saia já daí! – gritou Zacarias, afastando os galhos.

Mas o cachorro havia desaparecido.

Os raios do sol já estavam alcançando o topo das árvores. Zacarias decidiu que era melhor falar com o Apanhador de Sonhos.

- Falta muito para consertar o caminhão? – ele perguntou. – Nosso tempo está se esgotando.

- Eu sei, mas não consigo achar o defeito – respondeu o Apanhador de Sonhos, escolhendo outra ferramenta.

Zacarias sentou-se no pára-choque. – Sabe de uma coisa? – perguntou. – Eu sempre durmo de olhos abertos para poder enxergar os meus sonhos passando no escuro. Uma vez sonhei com rinocerontes.

- Eu me lembro – respondeu o Apanhador de Sonhos. – Era um rinoceronte tão pesado que achei que as molas do meu caminhão não fossem agüentar. Vamos ter de fazer um trato, Zacarias, nada de sonhos com rinocerontes.

- Talvez – disse Zacarias, sorrindo.

Enquanto o Apanhador de Sonhos experimentava outras ferramentas, Zacarias foi procurar o cachorro. Olhou nas garagens, nos jardins, embaixo dos caminhões e atrás das árvores. Então, ouviu um barulho. Correu em direção ao cachorro, mas ele saltou mais rápido. Zacarias levantou-se do chão cuspindo terra. Não havia sinal do cachorro. “Talvez ele goste desta rua”, pensou Zacarias. “talvez ele não queira ir embora.” Os raios de sol brilhavam em todas as janelas das casas. Zacarias foi dizer ao Apanhador de Sonhos que um dos sonhos ainda estava solto.

- Afaste-se! – avisou o Apanhador de Sonhos quando Zacarias apareceu. – Vou tentar fazer o motor funcionar.

Zacarias afastou-se. Seguiu-se uma longa pausa. O cavalo relinchou. Então houve uma explosão, e o motor voltou a funcionar. E bem a tempo, pois a luz do sol já inundava a rua.

- Viva! – gritou o Apanhador de Sonhos. – Obrigado. Não teria conseguido sem a sua ajuda!

- Não consigo encontrar o cachorro! – gritou Zacarias.

O Apanhador de Sonhos seu um assobio agudo e o cachorro peludo saltou de dentro das moitas. Ele era exatamente como Zacarias imaginava que um cachorro deveria ser, com longos bigodes e olhos da cor de chocolate. Quando o cachorro abanou o rabo, suas patas traseiras quase saíram do chão.

- Você gostaria de ficar com esse cachorro? – perguntou o Apanhador de Sonhos.

- Eu adoraria! – respondeu Zacarias.

- Então ele é seu – disse o Apanhador de Sonhos. – Vais ser mais divertido que consertar o aspirador de pó.

Zacarias deu um berro. Quase não podia acreditar na sua sorte.

- Obrigado! – ele gritou.

O Apanhador de Sonhos soltou o freio e acenou. – E o nosso trato? – ele gritou. – Nada de rinocerontes, hem!

- Combinado! – respondeu Zacarias, rindo, emquanto o caminhão saiu andando com suas molas arriadas.

Zacarias agarrou seu maravilhoso cachorro dos sonhos pela coleira e juntos correram para casa. Vamos pular na cama de mamãe e papai – disse Zacarias. – Eles vão achar que ainda estão sonhando, quando abrirem os olhos e virem você!

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