terça-feira, 23 de julho de 2013
Era uma vez uma princesa que perdera a fala. O que tinha sido, o que não tinha sido, não se sabia. Não falava, pronto.
Quanto ao resto, era igual às outras princesas. Até talvez mais bonita.
Pena que não se casasse. Pretendentes não lhe faltaram, todos nobres e distintos moços, mas a princesa fazia uma careta mal os via e estava tudo dito.
O rei, irmão da princesa, tinha muita pena dela e tudo daria para curá-la daquele estranho mal. E também gostaria que ela se casasse e fosse feliz.
Um dia, anunciaram que a comitiva de um príncipe estrangeiro, vindo de muito longe, se acercava do palácio para prestar homenagem ao rei e à princesa.
— Outro pretendente — comentaram os fidalgos da corte.
— Outra careta da princesa — comentaram os fidalgos da corte.
O príncipe vinha embuçado. Nem um bocadinho da cara se lhe via. Só os olhos.
Depois de reunir-se com o rei, foi apresentado à princesa.
— Minha querida irmã, este príncipe de terras distantes manifestou-me, com muito boas razões e promessas de aliança, o seu profundo desejo de desposar-te.
Isto disse o rei para a irmã. E continuou:
— A proposta pareceu-me tão interessante para o nosso reino, que eu não vejo motivo para que tu, mais uma vez, me contraries. Tantas foram as tuas caretas aos anteriores pretendentes, que não tolero nem mais uma recusa.
A princesa, de cara fechada, apertava os lábios. Ela era muda, mas não era surda e não estava nada agradada com o que ouvia. Nunca o irmão se lhe dirigira com tanta severidade.
— Desta vez, quando o príncipe se aproximar de ti, para se declarar, tens de oferecer--lhe o teu melhor dos sorrisos — recomendava-lhe o rei.
Nada fazia prever que o tal sorriso despertasse no rosto crispado e colérico da princesa.
Veio o príncipe de cara tapada.
— Ele parece que não é dotado de grande beleza, mas será certamente um bom marido — segredou-lhe o mano.
Caiu ao príncipe a capa que o ocultava. Um frémito percorreu a sala, cheia de cortesãos. O príncipe era um monstro. Nada de mais feio alguma vez se vira.
— Apresento-te o teu noivo — anunciou o rei.
— Não! – gritou a princesa. — Não, não e não! Que horror.
Depois de ter proferido estas palavras, a princesa fugiu do salão e refugiou-se no quarto.
— Mas falou — disse o príncipe-monstro, descolando da cara a máscara monstruosa.
Era, afinal, um rapaz de muito bom parecer. Entre ele e o rei havia combinação. O jovem príncipe, em anterior visita ao palácio, sofrera a humilhação de ver-se preterido por uma careta da desdenhosa princesa. Merecia ela de resposta outra careta ainda maior. Foi o que o príncipe fez, mostrando-lhe a caraça. O amor pode muito.
— A perda da fala da princesa terá tido por origem um susto — explicava o príncipe ex-monstro. — Só outro grande susto podia curá-la, como se provou.
Houve festa no palácio. A princesa, pelo sim, pelo não, saiu do quarto e veio espreitar. Não é que, pouco depois, estava a dizer sim ao tal príncipe apaixonado?
Quanto ao resto, era igual às outras princesas. Até talvez mais bonita.
Pena que não se casasse. Pretendentes não lhe faltaram, todos nobres e distintos moços, mas a princesa fazia uma careta mal os via e estava tudo dito.
O rei, irmão da princesa, tinha muita pena dela e tudo daria para curá-la daquele estranho mal. E também gostaria que ela se casasse e fosse feliz.
Um dia, anunciaram que a comitiva de um príncipe estrangeiro, vindo de muito longe, se acercava do palácio para prestar homenagem ao rei e à princesa.
— Outro pretendente — comentaram os fidalgos da corte.
— Outra careta da princesa — comentaram os fidalgos da corte.
O príncipe vinha embuçado. Nem um bocadinho da cara se lhe via. Só os olhos.
Depois de reunir-se com o rei, foi apresentado à princesa.
— Minha querida irmã, este príncipe de terras distantes manifestou-me, com muito boas razões e promessas de aliança, o seu profundo desejo de desposar-te.
Isto disse o rei para a irmã. E continuou:
— A proposta pareceu-me tão interessante para o nosso reino, que eu não vejo motivo para que tu, mais uma vez, me contraries. Tantas foram as tuas caretas aos anteriores pretendentes, que não tolero nem mais uma recusa.
A princesa, de cara fechada, apertava os lábios. Ela era muda, mas não era surda e não estava nada agradada com o que ouvia. Nunca o irmão se lhe dirigira com tanta severidade.
— Desta vez, quando o príncipe se aproximar de ti, para se declarar, tens de oferecer--lhe o teu melhor dos sorrisos — recomendava-lhe o rei.
Nada fazia prever que o tal sorriso despertasse no rosto crispado e colérico da princesa.
Veio o príncipe de cara tapada.
— Ele parece que não é dotado de grande beleza, mas será certamente um bom marido — segredou-lhe o mano.
Caiu ao príncipe a capa que o ocultava. Um frémito percorreu a sala, cheia de cortesãos. O príncipe era um monstro. Nada de mais feio alguma vez se vira.
— Apresento-te o teu noivo — anunciou o rei.
— Não! – gritou a princesa. — Não, não e não! Que horror.
Depois de ter proferido estas palavras, a princesa fugiu do salão e refugiou-se no quarto.
— Mas falou — disse o príncipe-monstro, descolando da cara a máscara monstruosa.
Era, afinal, um rapaz de muito bom parecer. Entre ele e o rei havia combinação. O jovem príncipe, em anterior visita ao palácio, sofrera a humilhação de ver-se preterido por uma careta da desdenhosa princesa. Merecia ela de resposta outra careta ainda maior. Foi o que o príncipe fez, mostrando-lhe a caraça. O amor pode muito.
— A perda da fala da princesa terá tido por origem um susto — explicava o príncipe ex-monstro. — Só outro grande susto podia curá-la, como se provou.
Houve festa no palácio. A princesa, pelo sim, pelo não, saiu do quarto e veio espreitar. Não é que, pouco depois, estava a dizer sim ao tal príncipe apaixonado?
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