sexta-feira, 31 de maio de 2013
oi pessoal tudo bem? queria dizer si voces quiserem pode colocar Comentarios e sejam bem-vindos ao HISTORIA DE PRINCESAS!
A matemática tem leis universais, que valem em todos os cantos do mundo. De tudo o que se move e transmuta o tempo todo, esta é uma ciência que sai ilesa: suas definições são imutáveis. Até vir uma menininha, doce que só ela, para desafiar as leis da matemática.
Já era de se esperar que aquela menininha fosse aprontar alguma. Quando a cegonha a trazia para sua mãe, tanto ela se balançava, tanto ela dançava, que não teve jeito: caiu no meio do voo! Por sorte, sobrevoavam
uma fábrica de doces e ela caiu no meio do mel. Não se machucou
nadinha, mas ficou toda melada. A cegonha deu-lhe um banho – ela riu
muito disto – antes de levá-la à sua mãe – 'o que ela vai pensar se eu
lhe entregar a menina cheia de mel?' Mas o banho não adiantou muita
coisa. O mel tinha entrado em sua pele, estava por toda ela. Tinha
virado, ela mesma, um docinho. A menina doce. A doce Sophia.
O que tinha
de doce, Sophia tinha de esperta. Era carinhosa e também muito levada!
Se fazia alguma arte, não esperava levar bronca: ia logo abrindo o sorriso mais doce do mundo, fazendo aquela carinha de 'me faz um carinho' e pronto! Todo mundo esquecia da arte e lhe cobria de beijos.
Quando entrou na escola, como era de se esperar, fez uma porção de
amigos e virou o xodó da professora. Até o dia da aula de matemática. A
professora começou apresentando os números, e Sophia adorou conhecê-los.
E então à professora passou às operações básicas, e aí que aconteceu a confusão.
A professora explicava, calmamente, que um mais um dá dois. Todo mundo
anotava no caderno, sem piscar. Um mais um igual a dois. Sophia olhava
para a professora e sua carinha era de dúvida. A professora notou.
- Que houve, Sossô? Está tendo alguma dúvida?
- Sim.
- O que é?
A professora riu. Achou que fosse brincadeira.
- Sophia, em todas as casas um mais um é igual a dois!
- Na minha, não é.
- Claro que é! Na sua, na minha, na de todo mundo: um mais um é igual a dois. Anota aí no seu caderninho.
- Não, professora. Na minha casa, um mais um deu três, depois deu quatro.
- Um mais um não dá quatro! - a professora começou a perder a paciência.
- Lá em casa, dá! - disse a menininha com doçura e uma certeza absoluta.
Os outros alunos começaram a agitar-se e a professora achou melhor encerrar a discussão.
No final da aula, a professora pediu que Sophia esperasse um pouquinho.
Chamou sua mãe, que viera buscar-lhe, e contou o que acontecera. A mãe,
também ela muito doce, abriu um sorriso e disse:
- Eu sei o que aconteceu. Lá em casa um mais um é mais que dois, mesmo.
A professora fechou a cara, querendo dar uma bronca na mãe que ensinava matemática errada à menina. A mãe de Sophia viu que a professora não estava entendendo nada, e foi logo se explicando:
- Eu sou uma, o pai da Sophia é outro. E a nossa soma nunca deu dois. Ele já tinha a Yasmin, e junto tivemos a Sophia. E foi assim que o nosso um mais um deu quatro!
A professora soltou uma gargalhada. Entendeu, afinal, que naquela família somavam os amores. E os amores não seguem, mesmo, as leis da matemática. E um mais um dá mais que dois!
Sophia foi para casa aprendendo esta lição: na matemática, um mais um
dá sempre dois. Na vida, às vezes dá. Mas quando um mais um dá mais que
dois... é muito melhor!
Pepê é um peixe esperto e agitadinho que vive nas águas profundas do
Oceano Atlântico. Como todos os outros peixes, precisa da água para viver. Só que
Pepê, além de esperto e agitadinho, tem uma curiosidade danada. E a
curiosidade de Pepê é esta: quer saber como é a vida fora d'água!
Já nasceu
perguntando, querendo saber: 'como é a vida no seco?' No começo, seus
pais e irmãos achavam graça, riam da curiosidade dele. Com o tempo, começaram a ficar preocupados. Por que raios aquele peixinho queria saber como era vida no seco? Faziam de tudo para distrai-lo, afastá-lo da ideia de sair do
mar. Mas não tinha jeito. Pepê tinha
nascido assim, com esta pulga atrás da orelha – quer dizer, atrás da
barbatana, porque peixes não tem orelha! - de saber como era a vida em
terra.
A situação piorou quando Pepê conheceu Jota, a gaivota. Jota era uma
gaivota viajada, conhecia um pouco de tudo – até no Oceano Índico Jota
já tinha ido. Contava para Pepê das enormes baleias que conhecera, dos
ferozes tubarões. Pepê bocejava. Estava cansado de saber como eram as criaturas marinhas. Queria saber como era o povo da terra.
Jota, ao contrário de Pepê, não livaga muito para o seco. Ficava sempre na costa, em cima de
umas pedras. Mas adorava a água, sempre que podia mergulhava, feliz, no fundo do mar.
Só que Pepê tanto martelava querendo saber do seco que Jota foi, cada
vez mais, começando a parar pelas praias. Quando voltava, estava cheio
de novidades.
Pepê aguardava o amigo como quem espera pelo Papai Noel: ansiosíssimo!
Jota contava das crianças correndo na areia, da água
de côco, do volley na areia. E, de tudo o que Jota experimentara, o que
mais enchia o Pepê de vontade de ir ao seco era um tal de picolé! Jota
explicara que era doce e gelado e tinha gosto de fruta. Pepê não
conseguia imaginar algo melhor do que uma coisa doce, gelada e com gosto de fruta – mesmo sem saber direito o que fruta era...
- Pepê, vou passar uns tempos fora.
- Por que?
- O frio chegou e eu não topo frio! Vou procurar algum lugar mais quente. Quando o clima melhorar por aqui, eu volto!
- Me leva com você, Jota!
- Não dá! Se desse, eu levava. Mas não tenho como te carregar...
E assim Jota saiu atrás do sol. Pepê sentia a falta do amigo todos os dias. E, mais que tudo, sentia falta de ouvir histórias da terra.
Um dia, Pepê tomou uma decisão. Estava cansado de esperar Jota voltar contando notícias do seco. Iria, ele mesmo, ver como eram as coisas na terra. E assim, sem que ninguém soubesse, começou a nadar rumo à costa.
Como era um ótimo nadador, Pepê logo alcançou a praia, que estava bem
vazia. Viu um casal que estava de mãos dadas olhando o mar, um senhor
lendo o jornal, uma moça ao telefone. Nenhuma criança. Nenhum picolé. Ainda assim, quis ir até a areia. Aproveitou o ir e vir das ondas e pronto! Num piscar de olhos estava na areia.
Mas, chegando lá, percebeu que cometera um erro! Um peixe vivo não pode
mesmo viver fora d'água fria! Começou a se debater na areia, quase
sufocando. O rapaz, o do casal, percebeu sua agonia e correu até ele.
'Tá perdido, peixinho?', perguntou, enquanto atirava Pepê de volta ao mar.
Pepê estava tão feliz e tão triste! Estava feliz por estar de volta à água, que é o seu lugar. E triste por não ter podido ficar mais no seco, que parecia ser um lugar tão bacana.
Nosso herói passou dias e dias pensando no que fazer. Como
poderia voltar à terra em segurança? Foi então que lembrou de algo. Uma
coisa genial! Já tinha visto muitas pessoas embaixo d'água. E as
pessoas não podiam ficar debaixo d'água, porque precisam de ar. Como
pode uma pessoa viva ficar fora da terra seca? Pepê sabia a resposta.
Pepê era um dos alunos mais aplicados da sua classe. E, por conta de
sua curiosiade do seco, estudava muito a vida das pessoas. E sabia que,
quando queriam mergulhar, levavam um tanto de ar junto com eles. Pepê já
tinha visto mergulhadores e seus tanques. Sabia como funcionava.
E foi assim que Pepê teve outra ideia: faria um tanque de água para poder
ir até o seco! Se funcionava para as pessoas virem para o mar, porque
não funcionaria para os peixes irem para a terra? Começou então a
fabricar um pequeno tanque d'água. Tudo pronto, Pepê tomou novamente o
rumo da costa.
Como da outra vez, pegou uma carona com as ondas. Rapidinho estava na
areia. Mas... como era difícil se movimentar ali! Não podia nadar, não
tinha como andar. Estava preso na areia, sem poder se mexer. 'Ai, e
agora?' pensou.
O tanque d'água de Pepê já estava pela metade quando um caranguejo saiu de dentro da areia e perguntou:
- Tudo bem aí?
- Mais ou menos... Não consigo me mexer aqui!
- Ih, você atolou! Vou chamar meus camaradinhas para te ajudarem!
E então surgiu, do nada, uma legião de caranguejos, que se posiciona
ram embaixo do Pepê e o levaram de volta ao mar. Pepê agradeceu muito a ajuda dos novos amigos.
Depois de duas tentaivas fracassadas que quase lhe custaram a vida,
Pepê conformou-se em ficar no mar. Percebeu, afinal, que um peixe vivo
não
pode viver mesmo fora da água fria.
O inverno passou e Jota voltou. Encontrou o amigo cabisbaixo,
tristinho. Pepê contou a Jota tudo o que acontecera em sua ausência.
Jota riu da coragem do amigo e disse: 'não fique triste, Pepê! Eu fiz um
amigo enquanto estive fora. Uma cara bacana que vai te ajudar a ver o
seco, pode apostar!'
Pepê ficou cheio de esperanças. Conseguiria ele, afinal, saber como era a vida em terra?
No dia seguinte, Jota chegou junto com seu amigo. Ferdinando, o
pelicano, era uma ave esquisita. Mas tinha um coração de ouro, e Pepê
gostou dele de cara. Jota explicou seu plano e Pepê, que era bem
corajoso, topou na hora!
E assim
foi que Pepê conheceu o seco estando dentro d'água! Ferdinando enchia o
papo d'água, Pepê pulava em sua boca. Ferdinando e Jota voavam até a
areia e, quando chegavam, o Pelicano abria um tanto do bico. Pepê ficava
ali, dento da bocona do Ferdinando, na água. Mas com os olhos bem vivos
do lado de fora!
Pepê, Jota e Ferdinando agora viajam pelo mundo. Já conheceram
diferentes praias, fazem amigos em todos os lugares. E Pepê descobriu
que Jota falava a verade: de tudo o que viu e conehceu na terra, o
melhor era mesmo o tal do picolé de fruta!
As corujas são umas criaturas muito engraçadas. Dormem o dia inteirinho, num destes sonos de urso que nada é capaz de interromper. Daí, quando o sol se põe... abrem os olhos e aproveitam a noite toda! O que os outros bichos fazem durante o dia, elas fazem à noite. Voam quase sem fazer barulho, tem aquele jeitinho de tímidas, parecendo sempre tão solitárias. Que nada! Gostam mesmo é de festa, por isso toda noite fazem uma festinha diferente: tudo é motivo para celebração! Levam a vida na maior farra, adorando acordar e dormir junto com os morcegos. Todas as corujas são assim. Menos aquela.
Aquela coruja não era assim. É preciso logo esclarecer que não era a coruja, e sim o coruja. Sim, era um macho. O nome do coruja era Tato. E Tato curtia a noite, gostava de festa e tal. Mas não todas as noites! Queria ver a luz do dia, pegar um bronze! Achava
esta negócio de dormir o dia inteirinho um desperdício de tempo. Dizia
para as outras corujas ' vamos pega rum solzinho, estamos todos pálidos
demais!' Mas ninguém lhe dava ouvidos. Riam dele, respondendo: 'coruja é da noite, rapaz! Vamos tomar um banho de lua, ao invés.' E Tato, frustrado, não tinha companhia para passear de manhãzinha.
Um dia, Tato sentiu sono bem cedo, lá pelas sete e meia da noite. Bem
na hora em que ia começar a festinha da coruja Mila. Tato desculpo-se
com todos e foi dormir. Ninguém entendeu nada.
Como já era de se esperar, Tato também despertou bem cedo. Às seis e meia da manhã, hora
em que as outras corujas estavam indo para suas árvores dormir, Tato
abriu os grandes olhos esbugalhados. O sol já estava no céu, mas ainda
estava morno, numa temperatura bastante agradável. Tato resolveu dar uma volta, descobrir como era o mundo à luz do dia.
Logo na primeira árvore que parou, Tato encontrou um passarinho. Que não era macho, era fêmea: a passarinha. Ela disse que se chamava Lina, e os dois ficaram amigos
na mesma hora. Lina conhecia tudo da vida diurna, e levou Tato para
conhecer uma porção de lugares legais – passaram o dia voando de um lado para o outro.
Quando entardeceu e a lua começou a despontar, Tato estava exausto! Só
conseguia pensar na sua caminha, quentinha, esperando no alto de sua árvore. Correu para casa, abraçou seu cobertor e em cinco minutos já dormia profundamente.
As outras corujas estranharam a ausência de Tato aquela noite. O que
estava acontecendo para ele querer dormir ao invés de festejar? Estaria
ele adoentado? Seria caxumba, dor de barriga ou um simples resfriado? Todas começaram a ficar preocupadas com ele.
E Tato, alheio às preocupações, começou a viver uma vida diurna. Estava gostando muito disto,
voava durante horas com Lina, conhecia vários outros bichos, estava com
um aspecto saudável, bronzeado. Sentia-se muito bem vivendo de dia.
Só que coruja tem mesmo que viver como coruja, e quem nasceu para dormir junto aos morcegos não pode
querer levar vida de canário. Um belo dia, chegou o aniversário da mãe
de Tato. Era uma festa que ele não podia faltar, claro. Passeou, como sempre, durante o dia com Lina. À noitinha, tomou um banho frio para despertar, uma xícara de café bem forte e foi para a festinha.
Chegando lá, lembrou-se do quanto a vida noturna também era divertida:
dançou, comeu salgadinhos, fez uma tremenda bagunça com seus amigos. Ficaram na festa até o raiar do sol, quando todos voltaram para casa para dormir.
Tato voltou para casa, pensando: durmo um pouquinho e então saio para pegar sol com a Lina. Mas... quem disse? Tato se revirava na cama, de um lado para o outro, e o sono não vinha. Tomou um banho quentinho, um leite morninho, nada! Não tinha sono nenhum. Então resolveu se vestir e sair para passear com Lina. 'De noite eu durmo', pensou.
Passeou com Lina durante todo o dia, foram até a praia pegar sol, comeram
milho no parquinho junto às pombas. À noite, Tato estava bastante
cansado. Foi para casa dormir, mas não conseguiu. Ficava se revirando na
cama numa agonia sem fim.
Os dias foram passando sem que Tato conseguisse dormir. O sono tinha
sumido, não sabia mais onde procurá-lo. Ele lia historinhas, ouvia
musiquinhas, via televisão. Tomava leite quente, frio e morno. Tomava chá. Nada adiantava, o sono não vinha.
Tato foi perdendo a cor. Não era mais pálido como as outras corujas, e
nem bronzeado como Lina. Era um ser sem viço, sem energia. Sua mãe
começou a ficar tensa, achando
que seu filho não dormiria nunca mais! Resolveu, então, consultar o Dr.
Pereira, que era a coruja mais sabida dali. O Dr. Pereira examinou
Tato, conversou com ele. Deu o diagnóstico:
- Eu sei, Dr. Pereira, mas eu não consigo!
- Não consegue. Nem vai conseguir!
- Mas eu não entendo, Dr. Pereira...
- Tato, você está vivendo duas vidas. Você quer ser uma coruja diurna. Mas isto não existe! Você quis ficar levando a sua vida com o calor do sol, mas as corujas foram feitas para viver ao brilho da lua. Simples assim.
- Mas, e meus amigos? E a Lina?
- Eles vão entender. Você é uma coruja, tem que viver como tal. Não adianta contrariar a própria natureza, Tato. É assim que você é.
- Está bem, doutor. Eu vou tentar voltar a viver à noite.
Tato
escutou o que o médico dissera, e voltou a viver sua vida noturna. Em
pouco tempo, estava novamente saudável. Todos os seus amigos entenderam
sua situação. Mas ele, no fundo, sentia, muita falta do sol, dos
passeios com Lina. Ela, por sua vez, tentou viver uma vida noturna, mas não conseguiu.
Um dia Tato teve uma ideia. Por que deveria levar sua vida como todo
mundo, se gostava de ser de outro jeito? O Dr. Pereira dizia que não se
devia contrariar a natureza, e Tato descobriu que a sua natureza era diferente dos demais. Então resolveu que não viveria de manhã ou de noite, viveria de tarde!
E assim foi que Tato, o coruja, resolveu seu problema. Acordava todos os dias
às três e meia da tarde. Passeava com Lina, iam ao parque. Na hora do
pôr do sol, corriam para a praia – porque não há nada mais bonito do
mundo do que ver o pôr do sol na praia, vocês sabem! A lua subia ao céu,
Lina ia dormir. Tato encontrava as outras corujas,
jantava com seus amigos, ficava um pouco com sua mãe. E de madrugada
voltava, feliz, para casa. As outras corujas continuavam festejando até o
amanhecer.
Se está dando certo? Tato dorme bem, nunca mais ficou doente. Gosta de levar a vida assim, do seu modo.
Aproveita um pouco da vida de morcego e da vida de canário. Está muito,
muito feliz. E no final das contas... não é isto que importa?
Lorota era
uma minhoca engraçada, que tinha uma porção de amigos. Vivia, como todas
as outras minhocas, embaixo da terra. Gostava de fazer túneis no
subsolo, e sentir o ar entrando entre as brechas. Cavava o dia inteiro e
divertia-se muito fazendo isto. Mas Lorota tinha uma coisa diferente das outras minhocas. Lorota nunca subia à superfície.
Todas as minhocas cavavam seus túneis, mas subiam sempre. Passeavam nos parques, pegavam um solzinho, tomavam banho de chuva... Adoravam a vida na superfície. Só Lorota que vivia enfurnada debaixo da terra.
Não tinha sido sempre assim, claro. Lorota já tinha subido algumas vezes, para ver se tudo o que diziam era verdade. Mas Lorota não deu sorte: todas as vezes em que subiu à superfície, alguma coisa aconteceu.
Na primeira vez, um susto grande. Mal Lorota colocou o rosto para fora da terra... ziiiiiiiuuuummmm!!! Uma menininha passou zunindo de patins e quase a atropelou! O coraçãozinho da pobre minhoca batia tão forte que ela achou que fosse ter um treco! Voltou correndo para baixo da terra!
Passados alguns meses, refeita do susto, Lorota decidiu tentar outra vez. Subiu à superfície e...ficou encantada com o que viu! No parque arborizado, as crianças corriam felizes, fazendo uma gostosa algazarra. Lorota olhava distraída as pipas no céu quando percebeu, tarde demais, uma sombra. Um enorme pássaro a abocanhou e saiu voando. 'Ai meu Deus! Vou virar comida de passarinho!', Lorota pensava. O pássaro, de fato, a jogou dento de seu ninho, onde os filhotes esperavam ansiosos por uma refeição. Mas Lorota foi mais rápida que eles: conseguiu, ainda no ar, dar uma cambalhota. Foi parar embaixo do ninho, onde ficou escondida até passar o perigo. Depois, desceu pela árvore e correu para baixo da terra, jurando nunca mais subir à terra.
A minhoca conseguiu cumprir esta promessa durante alguns anos. Até que, num período de seca, estava com muita sede. A terra estava árida, e ela sentia uma enorme necessidade de molhar-se. Resolveu arriscar mais uma vez.
Era um dia realmente quente. Os termômetros passavam dos quarenta graus. Quem podia, estava na praia. Quem não podia, estava com o ar-condicionado ligado. Todo mundo tentando amenizar o calor. Lorota subiu à superfície e foi tomada por um ar quente que nunca sentira antes. Debaixo da terra não era tão quente quanto em cima, mas ela estava decidida a buscar um pouco de água para se refrescar. Só que, infelizmente, Lorota não conhecia a superfície.
A pobre minhoca não sabia nem por onde começar! Tinha saído no mesmo parque que da outra vez. Mas as folhas estavam secas, feias, torradas pelo sol. No parque deserto, nenhuma sombra. Não tinha a alegria de antes. E Lorota não sabia qual direção tomar. 'Sempre em frente!', pensou, e traçou uma linha reta imaginária. Seguiu seu rumo. Adiante, sempre.
Lorota não podia saber o que era aquilo. Nunca tinha estado na superfície por tempo suficiente para saber do que se tratava. E quando soube, já era tarde demais.
A minhoca foi andando sempre em frente, até alcançar uma trecho de asfalto. Com o calor que fazia, o asfalto borbulhava. Virou uma grande chapa fervendo. E a pobre minhoquinha, ao notar isto, estava no meio desta chapa, sem ter para onde correr!
O sol denunciava: meio-dia! Estava em todos os lugares, em todo o seu esplendor e fervor. Lorota sentia-se derretendo de calor. Suas forças fugiam. 'Bonito!'- pensou – 'depois de me esconder por tanto tempo, subo à superfície para virar minhoca frita!'
Quanto mais tentava correr, mais fraca se sentia. Quis chorar, mas nem para isso tinha forças. Torcia para que algum pássaro a visse. Teria, pelo menos, alguma chance de fugir...
Lorota já estava no auge do seu desespero quando ouviu um zumbido. Olhou para o alto e viu um pequeno ser. Gritou – ou melhor, tentou dar um grito, mas estava tão fraquinha que sua voz foi pouco mais que um sussurro:
- Socorro! Socorro!
Iuri, o vaga-lume que passava ali a caminho de um brunch, pensou estar sonhando. O que fazia uma minhoca estatelada no meio do asfalto? Parecia estra fritando, a coitadinha! Voou para cima dela:
- Precisa de uma ajudinha aí, colega?
- Por favor... estou fritando! - Tô vendo...
Iuri conseguiu enlaçar Lorota e a tirou dali. Ela estava tão fraca que mal se movia. Completamente desidratada, estava zonza, a ponto de desmaiar. Iuri voou com ela até uma poça d'água e a jogou lá dentro. Em questão de minutos a minhoquinha estava se sentindo bem melhor.
- Obrigada. Não sei nem como te agradecer!
- Que isso!
- Não, sério. Tem alguma coisa que eu possa fazer?
- Bom, eu tô indo sozinho para um aniversário, seria bom ter uma companhia...
- Está bem, eu vou. Contanto que você fique de olho para eu não fritar de novo!
- Combinado!
Lorota e Iuri tornaram-se grandes amigos. Deste dia em diante, a vida de Lorota mudou. Quando queria ir à superfície, fazia um sinal. Iuri ia esperá-la sempre no mesmo lugar. Um tomava conta do outro e nunca tinham problemas. Lorota venceu o medo da superfície. Afinal, quando temos um amigo para nos ajudar, fica mais fácil de enfrentarmos todos os nossos medos, por maior que eles sejam.
Todas as minhocas cavavam seus túneis, mas subiam sempre. Passeavam nos parques, pegavam um solzinho, tomavam banho de chuva... Adoravam a vida na superfície. Só Lorota que vivia enfurnada debaixo da terra.
Não tinha sido sempre assim, claro. Lorota já tinha subido algumas vezes, para ver se tudo o que diziam era verdade. Mas Lorota não deu sorte: todas as vezes em que subiu à superfície, alguma coisa aconteceu.
Na primeira vez, um susto grande. Mal Lorota colocou o rosto para fora da terra... ziiiiiiiuuuummmm!!! Uma menininha passou zunindo de patins e quase a atropelou! O coraçãozinho da pobre minhoca batia tão forte que ela achou que fosse ter um treco! Voltou correndo para baixo da terra!
Passados alguns meses, refeita do susto, Lorota decidiu tentar outra vez. Subiu à superfície e...ficou encantada com o que viu! No parque arborizado, as crianças corriam felizes, fazendo uma gostosa algazarra. Lorota olhava distraída as pipas no céu quando percebeu, tarde demais, uma sombra. Um enorme pássaro a abocanhou e saiu voando. 'Ai meu Deus! Vou virar comida de passarinho!', Lorota pensava. O pássaro, de fato, a jogou dento de seu ninho, onde os filhotes esperavam ansiosos por uma refeição. Mas Lorota foi mais rápida que eles: conseguiu, ainda no ar, dar uma cambalhota. Foi parar embaixo do ninho, onde ficou escondida até passar o perigo. Depois, desceu pela árvore e correu para baixo da terra, jurando nunca mais subir à terra.
A minhoca conseguiu cumprir esta promessa durante alguns anos. Até que, num período de seca, estava com muita sede. A terra estava árida, e ela sentia uma enorme necessidade de molhar-se. Resolveu arriscar mais uma vez.
Era um dia realmente quente. Os termômetros passavam dos quarenta graus. Quem podia, estava na praia. Quem não podia, estava com o ar-condicionado ligado. Todo mundo tentando amenizar o calor. Lorota subiu à superfície e foi tomada por um ar quente que nunca sentira antes. Debaixo da terra não era tão quente quanto em cima, mas ela estava decidida a buscar um pouco de água para se refrescar. Só que, infelizmente, Lorota não conhecia a superfície.
A pobre minhoca não sabia nem por onde começar! Tinha saído no mesmo parque que da outra vez. Mas as folhas estavam secas, feias, torradas pelo sol. No parque deserto, nenhuma sombra. Não tinha a alegria de antes. E Lorota não sabia qual direção tomar. 'Sempre em frente!', pensou, e traçou uma linha reta imaginária. Seguiu seu rumo. Adiante, sempre.
Lorota não podia saber o que era aquilo. Nunca tinha estado na superfície por tempo suficiente para saber do que se tratava. E quando soube, já era tarde demais.
A minhoca foi andando sempre em frente, até alcançar uma trecho de asfalto. Com o calor que fazia, o asfalto borbulhava. Virou uma grande chapa fervendo. E a pobre minhoquinha, ao notar isto, estava no meio desta chapa, sem ter para onde correr!
O sol denunciava: meio-dia! Estava em todos os lugares, em todo o seu esplendor e fervor. Lorota sentia-se derretendo de calor. Suas forças fugiam. 'Bonito!'- pensou – 'depois de me esconder por tanto tempo, subo à superfície para virar minhoca frita!'
Quanto mais tentava correr, mais fraca se sentia. Quis chorar, mas nem para isso tinha forças. Torcia para que algum pássaro a visse. Teria, pelo menos, alguma chance de fugir...
Lorota já estava no auge do seu desespero quando ouviu um zumbido. Olhou para o alto e viu um pequeno ser. Gritou – ou melhor, tentou dar um grito, mas estava tão fraquinha que sua voz foi pouco mais que um sussurro:
- Socorro! Socorro!
Iuri, o vaga-lume que passava ali a caminho de um brunch, pensou estar sonhando. O que fazia uma minhoca estatelada no meio do asfalto? Parecia estra fritando, a coitadinha! Voou para cima dela:
- Precisa de uma ajudinha aí, colega?
- Por favor... estou fritando! - Tô vendo...
Iuri conseguiu enlaçar Lorota e a tirou dali. Ela estava tão fraca que mal se movia. Completamente desidratada, estava zonza, a ponto de desmaiar. Iuri voou com ela até uma poça d'água e a jogou lá dentro. Em questão de minutos a minhoquinha estava se sentindo bem melhor.
- Obrigada. Não sei nem como te agradecer!
- Que isso!
- Não, sério. Tem alguma coisa que eu possa fazer?
- Bom, eu tô indo sozinho para um aniversário, seria bom ter uma companhia...
- Está bem, eu vou. Contanto que você fique de olho para eu não fritar de novo!
- Combinado!
Lorota e Iuri tornaram-se grandes amigos. Deste dia em diante, a vida de Lorota mudou. Quando queria ir à superfície, fazia um sinal. Iuri ia esperá-la sempre no mesmo lugar. Um tomava conta do outro e nunca tinham problemas. Lorota venceu o medo da superfície. Afinal, quando temos um amigo para nos ajudar, fica mais fácil de enfrentarmos todos os nossos medos, por maior que eles sejam.
Julho era o meu mês preferido no ano todo. Assim que começava a
esfriar, eu ficava animado. As temperaturas iam caindo e eu ia ficando mais e mais contente. E ele chegava, o meu mês! Um dia , dois, dez e pronto: férias! Como eu gostava das férias de julho!
Não é que eu não gostasse da escola. Pelo contrário, achava a minha escola legal a
beça! Gostava dos professores, das aulas – até da de matemática - , das
feiras de ciências, de artes e literária, de brincar com meus amigos
durante o recreio. Eu realmente curtia demais a minha escola. Só que, nas férias de julho, todo ano o circo vinha para a cidade. E todo ano os meus pais me levavam lá.
A minha cidade é bem grande. Devem ter uma porção de circos o tempo todo, eu acho. Só que meus pais só me levavam nas férias de julho. Sempre o mesmo circo, que tinha um nome bem pomposo ' Le Grand Cirque Mistique'. A minha mãe dizia que
vários circos fazem as maiores maldades com os animais, mas que naquele
circo isto não acontecia. Uma das amigas da minha mãe era jornalista e tinha feito uma reportagem, conhecia todo o pessoal do Le Grand Cirque Mistique. Ela garantiu para a minha mãe que o pessoal era gente fina, e que os animais, tratados a pão de ló. Vai ver que é por isso que meus pais só me levavam naquele circo...
Bom, mas como eu ia dizendo, todo mês de julho tinha circo. Às vezes eu chegava a ir a três espetáculos na mesma semana! Eu gostava de ver a
foca com a bola no nariz, dos palhaços em cima de uma monocicleta, da
equilibrista andando na corda, dos malabaristas e suas graças. Mas nada
me encantava mais do que o mágico.
Eu acredito em magia é por acreditar nisto que o show de mágica me fascina tanto. Como ele pode tirar um coelho de dentro da cartola? Como ele pode serrar a assistente ao meio? Como ele pode transformar um lenço numa pombinha? Eu acho tudo isto genial, e sempre que vou ao circo fico vidrado no que o mágico faz. Meu pai acha uma graça danada da minha cara, diz que eu crescer vou entender o truque e não dar muita bola. Já a minha mãe diz que o bacana é não saber o truque e continuar acreditando na mágica. E eu tô com a minha mãe nessa.
Assim que eu fui para casa, no primeiro dia de férias, perguntei para o
meu pai que dia o circo chegava. Ele me avisou que em três dias o circo
chegava, mas que só tínhamos conseguido ingressos para dois dias depois. Eu fiquei passado! Como que eu ia perder a estreia do circo?
A minha mãe deve ter sentido que eu fiquei muito chateado com este lance de perder a estreia do circo. Só pode ter sido isto. De outro modo, ela não teria feito o que fez.
Era a véspera da estreia e minha mãe me chamou.
- Davi, venha aqui.
- Que foi, mãe? - respondi na hora.
- Meu filho, eu preciso falar com você sobre o circo.
- Que houve? - pensava no que poderia ter acontecido.
- Nós não conseguimos ingressos para a estreia...
- Eu sei! - disse, triste de verdade.
- Pois é. Mas a Andreia conseguiu e me avisou. Ela disse ao Davizinho que ele poderia escolher dois amigos para irem junto, e ele escolheu você e...
Eu nem ouvi o resto do que minha mãe disse. Estava dando cambalhotas
pela casa, gritando, na maior felicidade! Eu sabia que o outro Davi, o
Xará – a minha mãe não o chamava de Xará, chamava
de Davizinho – sempre acabava dando um jeito de nos meter em confusão.
Mas, quem ligava para isso? O importante é que eu ia à estreia do circo! Quase não consegui dormir esta noite de tanta ansiedade.
Às duas e meia da tarde do dia seguinte, a tia Andreia, a mãe do Xará, deu uma buzinada lá no portão. Eu já estava mais que pronto e minha mãe já tinha me dado todas as recomendações
– 'obedeça à Andreia, não fale com estranhos, não coma porcarias
demais, comporte-se'. Ela me levou até o carro, onde estava a tia
Andreia, o Xará, e... a Manu!
Quase caí para trás ao ver a Manu ali, indo ao circo conosco. Quero
dizer, a Manu era muito minha amiga e eu gostava bastante dela. Mas ela e
o Xará não se topavam de jeito nenhum! Ela tinha papado todas as
bolinhas do Xará no campeonato de bolinhas de gude e, deste dia em diante, eles não se bicavam. Achei muito, muito estranho o Xará ter escolhido levar a Manu.
Falei com todo mundo e entrei no carro, do lado do Xará. Cochichei no ouvido dele:
- Por que você chamou a Manu? Viu que ela estava certa em ter levado suas bolinhas de gude?
O Xará cochichou de volta:
- Nada! Mas o Pedro torceu o pé e está de cama, a Duda ainda não entrou de férias, o Léo viajou e o Toninho ia visitar a avó dele. Aí só sobrou a Manu, mesmo.
- Ah, tá.
Eu não sei se a Manu ouviu, mas ela olhou para o Xará com uma cara de
'nem te ligo, farinha de trigo!' e nós dois resolvemos continuar a
viagem quietos.
Assim que chegamos ao circo, a tia Andreia encontrou com uma amiga que estava com o filho,
Hugo. Ainda faltava mais de uma hora para o espetáculo começar, então
elas disseram que nós poderíamos dar uma volta, ver as barraquinhas –
tinha uma de brindes, uma de pipoca, uma de pescaria... - e então
encontrá-las para entrarmos juntos. Foram até um banco e disseram: ' ficaremos aqui. Vocês podem passear, mas voltem em meia hora, está bem?' Nós concordamos e saímos.
Cada um queria fazer uma coisa diferente. Então resolvemos tirar no
zerinho ou um para ver quem escolhia o que iríamos fazer primeiro. Eu
ganhei a primeira rodada, e escolhi a barraquinha
de pescaria. Fomos, pescamos, mas ninguém ganhou nada. Depois era a vez
da Manu escolher, e ela escolheu irmos comprar algodão doce – e todo
mundo gostou bastante da sugestão. E então, era a vez do Hugo, e ele disse: ' vamos ver a bicharada!'
Quando ele falou isso, eu e a Manu nos olhamos. Será que ele também
aprontava muito, igual ao Xará? Ficamos ressabiados, mas fomos até
detrás da lona do circo ver os bichos.
Logo vimos a jaula do elefante. Enorme, cinza, estava ele ali. Chegamos
bem pertinho. O Hugo quis colocar a mão na tromba dele, e antes que nós
falássemos que não podia, ele já estava com a mão espalmada no bicho.
Para nossa surpresa, o elefante pareceu gostar, e ficou enrolando a tromba na mão dele. O Hugo estava com um saquinho de amendoins no bolso, e deu um tanto para o elefante. Daí que ele brincou ainda
mais com ele. Todos nós quisemos brincar com o elefante também. Ficamos
fazendo carinho nele um tempão e depois cada um deu um pouquinho de
amendoim para ele.
O Hugo disse: 'vamos à próxima jaula', e nós fomos. Logo ao lado do
elefante ficavam as focas, e elas também gostaram de nos ver ali.
Jogávamos as bolas que estavam no canto da jaula para elas e elas, na
mesma hora, as colocavam na ponta
do focinho. Nós rimos muito com isto! Do lado de fora da jaula tinha um
balde com sardinhas, então cada um pegou um peixinho para cada uma das
focas. Elas mereciam, mesmo.
Já estava quase na hora de voltarmos, mas aí o Xará – sempre ele! - apontou uma gaiola que estava no canto, meio escondida.
- O que será que tem ali? - o Xará perguntou
- Vamos ver! - o Hugo disse.
- Já vimos bastante coisa, vamos voltar. - respondeu a Manu.
- Se você estiver com medinho, pode voltar. É coisa para menino, mesmo. - o Xará provocou.
A Manu ficou vermelha de raiva, e eu achei que ela fosse explodir! Mas,
não. Bateu o pé firme e disse: 'vamos!' e então fomos todos ver o que
tinha na gaiola.
A gaiola era imensa. Tinha umas espécies de balanços no alto, uma casinha pendurada no teto e uma outra casinha no canto inferior esquerdo. Não parecia ter nada ali. O Xará disse:
- Será possível? Não tem bicho aqui? - e então deu um pontapé na gaiola.
No que ele deu o pontapé, a coisa mais incrível aconteceu! Saíram, ao
mesmo tempo, três pombas de dentro da casinha pendurada no alto, e um
coelho de dentro da casinha que estava no chão da gaiola.
- São os bichos do mágico! - eu exclamei!
- Que barato! - o Hugo disse. - Será que eles fazem mágica prá gente?
- Não, tonto! - respondeu a Manu – só fazem truques com o mágico.
Poderíamos ter dado a volta e ido embora. Mas, ao invés, resolvemos brincar com estes bichos também. Eram pequenos, e estes não davam medo nenhum. Ficamos brincando um tempão. E aí o Hugo disse:
- O que damos para eles? Não tem amendoim, sardinha, nem nada aqui para eles!
- Eu sei! - exclamou o Xará. E, dizendo isto, tirou uma barra de chocolate do bolso.
- Xará, acho que não é bom dar chocolate para bicho – eu disse.
- Ah, só um pouquinho não vai fazer mal – ele respondeu.
E então o Xará tirou um tiquinho de chocolate e deu para cada um dos
pombos, e outro tantinho para o coelho. Só que ele estava ali, com a mão
na gaiola de bobeira, e um pombo veio e abocanhou o chocolate todo.
- Ih, ele levou a barra toda! - o Xará levou um susto.
Em segundos, os pombos e o coleho devoraram a barra toda. Fiquei
pensando se eles não teriam uma dor de barriga, mas todos pareciam estar
bem.
- Estamos atrasados, precisamos voltar! - a Manu disse.
Saímos os quatro correndo, encontramos a tia Andreia e a mãe do Hugo e entramos no circo.
O espetáculo começou e eu mal cabia em mim de tanta felicidade! Vieram
os palhaços, os malabaristas, os equilibristas, a bailarina. Teve o show
das focas e o elefante levantando a patinha. E então anunciaram o
mágico. Eu achei que meu coração fosse saltar pela boca, de tão forte
que batia.
O mágico e sua assistente se posicionaram no meio do palco e começaram o show. Ela foi serrada ao meio, ele tirou duas moedas das orelhas de ois meninos da primeria fila. E entãeo ele pegou o lenço.
Todo mundo conhecia e gostava do truque: o mágico fazia o lenço viram
uma pomba branca. Ele começou a fazer o de sempre – pegou o lenço,
mostrou um lado, o outro, enrolou-o, colocou dentro da manga e então... nada. Não saiu pombo nenhum! O próprio mágico parecia surpreso. Ele correu para fazer outro truque, usando cartas de um baralho. E então pegou a cartola.
Da cartola sempre sai um coelho, todo mundo sabe. Mas,
ainda assim, é bem divertido de se ver. O mágico pegou a cartola,
mostrou o fundo, jogou-a no ar, pegou-a de volta, meteu a mão lá dentro,
e ... nada! Não saiu coelho nenhum. O mágico não conseguia disfarçar
sua surpresa. A assistente veio para perto, ajudá-lo. Os dois, juntos, meteram as mãos na cartola para ver se saía algo. E então saiu.
Juntos, como se tivessem combinado, saíram as pombas e o coelhos. Só que
não saíram bonitinhos como costumam fazer. As pombas saíram voando alto
e rápido, dando voltas no teto do circo e indo pousar nas cabeças das
pessoas sentadas na última fileira. O coelho fez pior. O colelho saiu
pulando igual a um doido e foi parar debaixo da saia de uma senhora
sentada logo na frente. E deu-lhe uma mordida no calcanhar! A mulher deu
um grito de ' aiaiaiai -elememordeu!' e saiu correndo, com o coelho
pulando atrás dela. Em menos de um minuto, todo mundo estava
correndo e gritando. O apresentador deu o espetáculo por encerrado,
devolveu o dinheiro do ingresso para todos e pediu muitas e muitas
desculpas.
Dois dias depois eu voltei ao circo com meus pais. Vi novamente tudo
que tinha visto na estreia. Mas, na hora do mágico... não teve show!
Depois do elefante
anunciaram o domador e então o espetáculo acabou. O show de mágica foi
cancelado porque os animais foram considerados perigosos demais.
Resultado: voltei para casa, mais uma vez sem ver o meu show preferido.
Eu tinha certeza que os bichos só tinham aprontado aquela confusão
porque o Xará tinha dado um tantão de chocolate para eles, mas do que
adiantava dizer? Já tinham cancelado o show mesmo, este ano eu ficaria
sem mágica.
Depois disto, eu e a Manu fizemos um trato. Sempre que o Xará nos convidar
para alguma coisa, por mais legal que pareça, a gente diz não. Se um
dos dois esquecer do quanto ele apronta, o outro tem a obrigação de
lembrar. Estamos tentando escapar das confusões que ele apronta, pelo
menos durante as férias. Porque ficar de castigo durante o mês de julho,
é dose de leão!
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